De vítima a aliado do tubarão

Ex-surfista conta em livro drama de ter sobrevivido a ataque de tubarão, na Praia de Boa Viagem, em 1994
Betânia Santana
Publicado em 09/11/2013 às 6:54


Ele foi atacado e mutilado por um tubarão em 1994. É a 11ª vítima dos ataques no litoral pernambucano, que já reúne 59 vítimas. Perdeu o pé esquerdo e viu os sonhos quase se perderem pela vida. Mas superou tudo, recomeçou e não se transformou num inimigo da espécie, daqueles que defendem a matança como forma de proteger banhistas. Ao contrário, acha que é preciso se unir aos tubarões e tirar proveito disso. O trauma, as dificuldades vivenciadas, os momentos de conflito e, principalmente, de superação enfrentados pelo analista de negócios institucionais Carlos Frederico Gomes Martins, 34 anos, ex-surfista, estão contados no livro O olhar da vítima – A história real de um ataque de tubarão, da Editora Matrix, que será lançado hoje, às 19h, na Livraria Cultura do RioMar Shopping, no Pina, Zona Sul do Recife.

Se o livro tivesse que ser resumido numa única frase, seria, segundo o autor, a seguinte: “As vítimas dos ataques de tubarão são mais do que estatísticas, elas têm uma história”. Essa é a mensagem que Carlos Frederico tenta repassar no livro. “As pessoas, a imprensa falam apenas do ataque. Perguntam como foi, como sobrevivemos, como aconteceu o socorro e pronto. Depois caímos no esquecimento. Nossa vida, dificuldades, anseios e medos são deixados de lado. No livro eu tento contar tudo o que passei para recomeçar. Os momentos de conflito, os obstáculos vencidos para recomeçar a viver, para me adaptar com a prótese, o que não é fácil, especialmente para um adolescente”, afirma.

Carlos Frederico tinha 15 anos quando foi atacado, surfando em frente ao Edifício Acaica, um dos pontos mais tradicionais da Praia de Boa Viagem, seja pela badalação da praia quanto pela incidência de ataques. Na época, os casos estavam começando a ser registrados oficialmente no litoral da cidade. “Ninguém sabia direito o que estava acontecendo. As pessoas surfavam sem problemas em Boa Viagem, entre elas eu. Estava no mar, às 16h de um dia de maré cheia (24 de julho), com vários outros surfistas no mar, esperando pelas ondas, quando fui mordido. Ao ouvirem meus gritos, todos saíram rapidamente do mar, sem me ajudar. Tive que sair sozinho. O tubarão arrancou meu pé e, mesmo assim, peguei uma onda até chegar à areia”, conta.

Apesar de ter tido o pé esquerdo amputado, ele conta que nunca culpou os tubarões pelo que sofreu. “Não vejo os tubarões como os vilões dessa situação no Recife. Na realidade, os tubarões também são vítimas”, defende. É tanto que o ex-surfista – hoje morando em Brasília depois de passar num concurso público – tem um tubarão tatuado no ombro, feito depois do ataque. Carlos Frederico defende que o Recife deveria tirar proveito desse cenário de ataques. “Deveríamos ter um oceanário para educar as pessoas sobre os cuidados e, principalmente, para falar sobre os tubarões. Mostrar que temos essa realidade sim, mas que é possível conviver com ela, respeitando os limites. Mostrar ao turista que sabemos lidar com tudo isso”, sugere.

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