Desde 2008 jovens moradores do Morro da Conceição, bairro da Zona Norte do Recife, organizam debates com temas ligados a exploração sexual, preconceito, questões raciais, discriminação, violência contra a mulher e voto consciente, entre outros assuntos. A trajetória dessa mobilização comunitária ganhou as páginas da revista Expressão Jovem, lançada na noite de sexta-feira (24) pela ONG Diaconia na Praça do Morro.
A publicação, distribuída gratuitamente, foi apresentada em mais uma edição da Sexta na Praça, promovida pelo grupo Quebra Kabeça sempre na penúltima ou na última sexta-feira do mês com periodicidade bimensal. “Nós escolhemos um tema, convidamos um especialista para debater com os jovens na praça e depois juntamos à informação as ações culturais, com música, dança ou teatro”, explica Marília Gabriela Santos.
Estudante de serviço social e integrante do Quebra Kabeça, Marília disse que a Sexta na Praça, com atividades de dança, música e teatro abertas ao povo, já conquistou a comunidade. “As pessoas perguntam e nos cobram a ação”, afirma. Na revista lançada sexta-feira (24), ela narra a história de luta dos jovens no Morro, dos anos 80 até os dias atuais.
Trinta anos atrás, diz ela, os jovens moradores do bairro lutavam por direitos básicos como água, escadaria e contenção de barreiras. “A luta por melhores condições de vida continua, mas em outro nível”, declara Marília, 29 anos. “A mobilização comunitária e a resistência política, não no sentido partidário, são mantidas pela juventude atual.”
O local escolhido para as ações, a Praça do Morro, é uma conquista dos jovens da comunidade de 20 anos atrás, comenta Marília. “O Morro é carente de áreas de lazer e no passado eles brigaram para ter esse espaço. Todos nós nos sentimos parte da praça. É o nosso ponto de encontro e onde recebemos as pessoas dos bairros vizinhos.”
O Quebra Kabeça é formado por 12 jovens, quase todos moradores do Morro. Participam também representantes de bairros vizinhos como Bomba do Hemetério e Vasco da Gama. “Ajudamos a diminuir o preconceito e a discriminação quando levantamos esse debate na comunidade”, observa Marília. O grupo atua em três linhas de ação.
“Temos a inserção em espaços políticos, como fóruns e conselhos; a formação de jovens nas escolas do bairro, com oficinas; e o debate, que é a mobilização comunitária, com a Sexta na Praça”, diz. “Aprendemos a respeitar os deficientes e a importância da educação. Se cada Estado do Brasil adotasse essa prática, nós teríamos um País melhor com certeza”, diz o estudante Michael de Araújo Santos, 13 anos, morador do Morro.