Medicada desde o dia do acidente com o filho, a costureira Lenise de Lima Santos, 45, juntou forças e participou do protesto até o fim. Ela acredita que se houvesse segurança no transporte Harlynton e Camila estariam vivos. “Eu faria tudo para lhe dar um abraço de novo”, diz.
JC – O que a senhora espera ao participar desse protesto?
LENISE DE LIMA – Que o governo faça alguma coisa pelo transporte público. A gente paga caro e os ônibus são todos cheios, não tem fiscalização. Se houvesse segurança não teria acontecido o que aconteceu com Harlynton e Camila. Quando vi o caso da menina falei para ele e a irmã terem muito cuidado e pedi para Deus consolar aquela família. Agora peço pela nossa também.
JC – Mas o que a senhora acha que aconteceu com Harlynton?
LENISE – Não tem a menor chance de ele ter se pendurado no ônibus. Se perdesse, ele ligaria para o pai ou o irmão. Acho que o ônibus parou e ele ficou preso. Um motorista experiente iria subir no meio-fio?
JC – Passado o impacto inicial da perda, como está sua rotina?
LENISE – Eu ainda falo com ele. Parece que não morreu. Chamo “Ton” e mando fazer alguma coisa. Onde quer que eu esteja a cabeça fica martelando. Mesmo com os medicamentos. Quando lembro que não vou vê-lo mais me dá uma dor tão forte! Ele chegava à noite, tocava a campainha e eu ficava esperando ele entrar para me abraçar. Nunca mais vou vê-lo chegar... Faria de tudo para lhe dar um abraço de novo. Espero que essa dor passe um dia.
JC – Como Harlynton era?
LENISE – Era um menino tão carinhoso, tão feliz, prestativo. Beijava todo mundo, inclusive na Igreja. Às vezes eu estava na cama ele vinha me beijar e pegava no sono comigo. Harlynton fazia o que gostava: ler, ir ao cinema, soltar gargalhadas com os amigos. Quando penso que ele está lendo para Deus me conforto, mas depois a dor volta. Que as mães beijem seus filhos todos os dias. Que os amem muito. A gente nunca sabe quando vai vê-los pela última vez.