Sem manutenção, Avenida Conde da Boa Vista agoniza

Principal corredor do Centro é um amontoado de problemas. Não há previsão para obras na via
Felipe Vieira
Publicado em 26/09/2015 às 6:41
Foto: Foto:Diego Nigro/JC Imagem


Da esquina com a Rua Dom Bosco ao cruzamento com a Rua da Aurora, ambas no bairro da Boa Vista, a Avenida Conde da Boa Vista tem exatos 1,7 quilômetro de extensão e o status de uma das principais vias da área central do Recife. Uma importância ainda à procura de reconhecimento por parte do poder público: o corredor é hoje um amontoado de problemas que vão da falta de controle urbano à má conservação de calçadas e paradas de ônibus, passando pelas obras inacabadas do Corredor Leste-Oeste de transporte coletivo e até mesmo pela imprudência dos pedestres, que teimam em atravessar a via em locais proibidos.

Uma das primeiras coisas que saltam aos olhos na Avenida são as carcaças das seis estações de BRT (ônibus de trânsito rápido) que deveriam estar funcionando desde antes da Copa do Mundo de 2014. Repletas de lixo e restos de comida, viraram abrigo para moradores de rua. O mau cheiro no local – fruto das necessidades fisiológicas das pessoas que vivem ali – é difícil de ser suportado por muito tempo. 

As seis estações da Conde da Boa Vista têm padrão diferente daquelas adotadas no restante do sistema BRT. São mais curtas e não irão dispor de ar-condicionado. Foram orçadas em R$ 1,9 milhão e não têm data para serem concluídas.

Os 325 mil passageiros usuários das 82 linhas de ônibus que servem a avenida diariamente também não têm motivos para comemorar. Além de não protegerem devidamente contra sol e chuva, as estações ainda representam perigo para os transeuntes. Há ferrugem espalhada pelas estruturas e, em alguns casos, existe o risco da queda de peças do teto dos abrigos. “Sem contar a falta de informações para as pessoas. Nós, comerciantes, fazemos as vezes de funcionários do Grande Recife Consórcio e dos letreiros que deveriam existir nas paradas, explicando quais as linhas que passam por aqui”, comenta o vendedor Márcio Antônio da Silva. “Geralmente eu informo, mas tem dias que você fica chateado de tanto dizer a mesma coisa”.

A última – e polêmica – grande intervenção na Conde da Boa Vista foi realizada em 2008, durante a gestão do então prefeito João da Costa (PT). Resultou em faixas exclusivas para ônibus, diminuiu o espaço para carros de passeio e implantou um gradil central, que em vários pontos foi depredado pela população. O motivo: atravessar a via sem ser pelas faixas de pedestre. O contínuo Mauri Moreira é um dos que se arriscam em meio ao tráfego pesado de coletivos. “É mais fácil passar por aqui do que andar até uma faixa. Eu já me acostumei”. A Conde da Boa Vista também é uma aula de antiestética: os pichadores não perdoam edifícios, pontos comerciais e até as placas que deveriam orientar a população. O estado das calçadas é até bom na primeira parte da via, entre a Ruas Dom Bosco e José de Alencar. Dali para frente, começa o festival de buracos. 

Mesmo notórios avanços conquistados pelo poder público, como a retirada dos camelôs da via, correm o risco de serem perdidos. Muitos ambulantes já se concentram na esquina da Conde da Boa Vista com a Rua Gervásio Pires, um dos pontos de maior fluxo de pessoas na via. Na última quinta-feira, quando a matéria foi apurada, uma equipe de sete veículos da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da prefeitura foi vista circulando pela Avenida, mas nenhum ambulante foi abordado.

Foto:Diego Nigro/JC Imagem
Estações de BRT são utilizadas como abrigo - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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Letreiros pichados e em mau estado impedem os passageiros de ver os nomes das linhas - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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Descaso com o BRT. E com as pessoas que moram na rua. - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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Camelôs ensaiam uma volta à Avenida Conde da Boa Vista - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
Foto:Diego Nigro/JC Imagem
Pedestres teimam em atravessar fora da faixa - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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As calçadas da Avenida servem de dormitório - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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O comércio também enfrenta problemas na Conde da Boa Vista - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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O mau estado das paradas - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
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Pedestres se arriscam por entre o gradil central - Foto:Diego Nigro/JC Imagem
Foto:Diego Nigro/JC Imagem
- Foto:Diego Nigro/JC Imagem
Não existe um plano específico para requalificação da Avenida Conde da Boa Vista, de acordo com a Prefeitura do Recife. Apenas os serviços rotineiros de manutenção (limpeza e recolhimento de lixo) e a inclusão da via na Operação Verão, iniciada em agosto e que prevê a troca de placas de concreto da faixa de rodagem, e que deve ser realizada até o final do ano, segundo a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana da prefeitura (Emlurb). 

O Grande Recife Consórcio explica que está elaborando uma licitação para a recuperação das 5.851 paradas de ônibus da Região Metropolitana, mas que ainda não há previsão para os serviços. Já a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) informa que as rondas dos fiscais pela Conde da Boa Vista vão continuar, e têm com o objetivo apreender mercadorias ilegais e desobstruir o passeio público. Ainda segundo a Semoc, os comerciantes informais que ainda atuam na Avenida serão direcionados para centros de comércio popular que estão sendo construídos nas Ruas da Saudade e Sete de Setembro, ambas no bairro da Boa Vista, área central da cidade. A acomodação nos novos locais, no entanto, só deverá acontecer em 2016. 

Responsável pelas obras do Corredor Leste-Oeste de BRT, a Secretaria Estadual das Cidades informa que está em curso um novo processo licitatório para substituir o consórcio Mendes Jr/Engevix. A obra foi paralisada assim que a Mendes Jr foi citada como envolvida na Operação Lava Jato, que investiga o envolvimento de construtoras em um suposto esquema de distribuição de recursos para campanhas eleitorais.
O pregão eletrônico relativo ao novo processo foi realizado no último dia 16, mas ainda não há previsão para a escolha da empresa que assumirá as obras. O governo estima que já foram investidos R$ 136 milhões no corredor, o que equivaleria a 80% dos serviços. O valor inicial do projeto era de R$ 168 milhões, mas deverá ficar maior, uma vez que os preços na nova licitação deverão ser reajustados.
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