A obra de restauração da casa onde funciona a Academia Pernambucana de Letras (APL), no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, começou em 24 de agosto de 2015 com uma meta: fazer a conservação dos forros e do teto para evitar o desabamento do telhado, infestado de cupins e comprometido por vazamento de água. Mas, a raspagem de camadas de tinta de paredes internas confirmou as pinturas do século 19 que apareciam apenas em fotos antigas.
Numa das salas de visita, hoje toda na cor branca, as paredes eram cobertas por uma estamparia em tons esverdeados. No salão de banquetes, ainda decorado com paisagens reproduzidas pelo pintor francês Eugène Lassailly, havia uma pintura imitando madeira em volta dos quadros. Essa moldura também apareceu com a retirada das tintas.
“Fizemos a prospecção em pedaços das paredes. A ideia agora é elaborar um projeto de resgate das pinturas”, declara o arquiteto Jorge Passos, responsável pela obra de conservação do teto e das fachadas do imóvel. Uma opção, diz ele, seria descascar tudo, avaliar o grau de dano e reconstituir as partes perdidas. “Vale a pena fazer isso com a obra de Lassailly”, afirma.
O casarão dos século 19 pertencia ao português João José Rodrigues Mendes (1827-1893), próspero comerciante de bacalhau que tinha o título de barão. Ele comprou a propriedade na década de 1870 e fez uma grande reforma. A fachada ganhou azulejos portugueses, o piso foi revestido com mosaico inglês, os cômodos iluminados com lustres da França, a sala de jantar mobiliada com móveis de carvalho da Áustria e as paredes decoradas com desenhos de Lassailly, que trabalhou em Pernambuco.
De acordo com a antropóloga e presidente da Academia, Fátima Quintas, a proposta da APL é resgatar a história da casa e a vida do barão Rodrigues Mendes, contextualizada com a cidade do Recife no século 19, para implantar um novo projeto museológico e museográfico no solar, com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A expectativa é abrir o museu no fim de 2016.
PROTEÇÃO
O prédio, de arquitetura neoclássica, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “É uma casa com pedigree, que preserva o classicismo imperial com pureza significativa das formas”, avalia Jorge Passos. Por enquanto, ele está cuidando da saúde da casa, com as intervenções mais urgentes, no telhado e nos azulejos das fachadas.
Operários especializados estão trocando a madeira estragada dos forros e do telhado, colocando uma subcobertura para proteger a casa de possíveis infiltrações, corrigindo falhas e fissuras nos azulejos e nos rejuntes das pedras. A estucaria dos forros (trabalho artístico feito de gesso) também está sendo recuperada, onde há perdas e deformações de obras anteriores.
Prevista para terminar em maio de 2016, a obra custa R$ 2 milhões e é financiada pelo BNDES, com recursos captados pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet. “Submetemos o projeto ao Ministério da Cultura e ao Iphan. Entre o envio da proposta, a aprovação em Brasília e o início dos serviços, foram dois anos e meio de luta”, destaca Fátima Quintas.