Comunidade do Pilar ainda sem teto digno

Projeto de requalificação iniciado em 2010 previa 588 moradias mas só 84 foram entregues
JC
Publicado em 20/04/2016 às 7:16
Projeto de requalificação iniciado em 2010 previa 588 moradias mas só 84 foram entregues Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem


Um barraco fincado na frente da Prefeitura do Recife dava o recado: há 400 metros dali, centenas de moradores continuam esperando por um teto digno. Anunciado em 2000 e iniciado em 2010, o Programa de Urbanização e Inclusão Social da Comunidade do Pilar só entregou, até hoje, 84 das 588 unidades habitacionais planejadas. Outras 108 são previstas para este semestre. Para pressionar o município, nesta terça o movimento Seja a Mudança convidou moradores e montou o barraco no canteiro central da Avenida Cais do Apolo, onde foram distribuídos panfletos sobre o assunto.

A dona de casa Ana Maria Araújo, de 56 anos, é uma das que esperam por um apartamento. “Tenho câncer nos ossos e queria muito uma casa nova. Recebo auxílio-alimentação (de R$ 200) há sete anos, mas pago R$ 400 de aluguel. E não me dizem se vou estar na lista da próxima entrega. Se não for desta vez, vai ser quando?”.

Hoje com 22 anos e uma filha de 3, Jaiane da Silva conta que não entrou no cadastro quando derrubaram o barraco onde morava por ser de menor idade. “Invadi outro. Quando me tirarem, não sei pra onde vou”, diz, preocupada. Grávida de sete meses, Juliana da Silva, 23, afirma que foi cadastrada mas não recebe auxílio porque estava empregada. “E agora? Perdi o emprego e dizem que a prioridade para receber as casas é para idosos, doentes e quem tem cinco filhos. Vou precisar fazer mais quatro?”, ironiza. “Tem gente que recebeu casa e nunca morou nela. Alugou”.

“O grande problema é a falta de compromisso dos governos com a comunidade. Não há interesse em manter os moradores no local. O único braço das gestões presente no Pilar é a polícia”, avalia o programador Ivson Lima, de 28 anos, que há seis anos teve sua casa derrubada e recebe auxílio até então. 

Fundador do Seja a Mudança, Igor Sacha classifica a obra como “um escândalo”. “O prefeito só fala em uma das cinco quadras do projeto e vai acabar a gestão sem entregar nem mesmo ela. Mas os recursos estavam assegurados”, declara. Orçada em R$ 39,4 milhões, a intervenção teve o valor reajustado para R$ 46 milhões.

Por meio de nota, a Empresa de Urbanização do Recife (URB) afirma ter “32 homens trabalhando no acabamento dos 108 apartamentos dos blocos B e D” e que “está aguardando a publicação de portaria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre a liberação de empresa especializada em arqueologia para iniciar as obras de urbanização dos blocos que serão entregues”, sendo prevista sua conclusão em junho. Nada foi dito sobre o restante do projeto ou os motivos de sua paralisação.

Segundo a URB, serão implantadas cisternas, rede de esgoto e drenagem, iluminação, passeios, vias e plantadas árvores. A empresa afirma que mantém diálogo com os moradores.

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