O metrô do Recife volta a registrar mais uma morte durante uma tentativa de assalto – além de três suspeitos detidos – sem qualquer perspectiva de melhoria no seu esquema de segurança. Em março, forçada por uma ação judicial dos metroviários, a administração local enviou à sede da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) um Plano Nacional de Segurança, prevendo contratação de mais 800 vigilantes, mas não há qualquer sinalização de que ele virá a ser executado.
Na ocorrência de ontem, Robson Batista Saturnino, 21 anos, foragido do Complexo Prisional do Curado desde janeiro, foi morto com três tiros por um policial militar à paisana. Segundo as investigações, ele teria anunciado um assalto (entre as estações Joana Bezerra e Largo da Paz) com outros três comparsas: Leonardo Francisco Guilherme, 21, Anderson Carlos Santana Oliveira, 26, e Willams Vilas Lima, 19. Os três serão submetidos à audiência de custódia para que a Justiça avalie a necessidade ou não de serem encarcerados.
O PM, que prefere não ser identificado, conta que pegou o metrô na Estação Joana Bezerra e pouco depois percebeu a movimentação dos suspeitos. “Um deles se levantou e entregou uma faca e uma peixeira a outros dois. Havia cerca de 20 pessoas no trem e apenas três homens. Quando anunciaram o assalto, Robson tentou me intimidar, batendo com a faca no ferro onde as pessoas se seguram. Eu dei um pulo para trás e puxei a arma, me identificando como policial e mandando se entregarem, mas ele veio na minha direção e atirei no seu ombro. Ele avançou de novo e eu dei mais dois tiros”, relata. As outras balas atingiram o pescoço e tórax, ele morreu no local.
Conforme conta o militar, que diz andar de metrô há apenas uma semana, as pessoas do vagão (que continuava em movimento) entraram em pânico e correram para a sua retaguarda. “Os outros suspeitos recuaram e obedeceram, guardaram a faca na bolsa e se deitaram no chão. Quando o vagão parou na Estação Largo da Paz pedi apoio policial”, complementa. “Os presos disseram que estavam bebendo antes e que iam para a Vila São Miguel (onde dois moravam)”.
A Estação Largo da Paz é a mesma em que dois suspeitos foram mortos por um policial civil que reagiu a uma tentativa de assalto, em 31 de agosto do ano passado. Como naquele caso, o PM também não deverá responder por homicídio. “A princípio, o policial agiu no estrito cumprimento de seu dever e em legítima defesa”, explica o delegado João Gaspar, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O assessor de comunicação do metrô, Salvino Guedes, diz que o metrô também é vítima da crescente violência da cidade e que a situação só se resolverá por meio de uma ação conjunta dos poderes municipal, estadual e federal. Hoje, há 250 terceirizados em atuação e 105 agentes ferroviários que desde 2011 deixaram de usar armas devido a uma ação da Polícia Federal que corre na Justiça.
Além dos constantes episódios de violência, o metrô sofre com a atuação incontrolável de ambulantes, que contribui para o acúmulo de muito lixo nos trens e estações, como flagrado pelo JC na última semana. A assessoria informa que a sujeira é “resultado da atitude dos próprios usuários, que insistem em não obedecer regra estabelecida que proíbe a alimentação dentro dos vagões”. Registra, também, que o metrô não tem poder para apreender as mercadorias, mas faz ações conjuntas com o Recife para isso.