A falta de controle do Estado sobre suas unidades prisionais, denunciada em entrevista do ex-juiz da Vara de Execuções Penais Luiz Rocha, pode ser comprovada em números. Com 60% das guaritas externas de segurança desativadas, segundo o Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindasp-PE), armas e drogas entram facilmente nos presídios, de onde foram recolhidas 50 armas de fogo, 3.205 armas brancas, 145 quilos de drogas e 2.736 celulares, em 2016. Os números ainda indicam que já há um lento massacre no Estado, com 43 mortes no sistema no ano passado.
Em entrevista dada ontem pela manhã à Rádio Jornal, o juiz – hoje na Vara da Fazenda – disse que a ausência do Estado é quase uma regra no País e propiciou o surgimento das facções criminosas que estão dominando o sistema penitenciário. O magistrado classificou como “ignorância” simplesmente largar os criminosos dentro dos presídios, sem qualquer controle, pois eles vão voltar para o convívio social. Por isso, acredita, só abrir mais vagas também não resolve o problema. “O Estado tem que ter o controle das unidades prisionais. Isso se faz através de agentes penitenciários dentro da unidade. Não adianta você ter lugar para colocar o preso mas não ter a disciplina, a orientação, o controle. É o mesmo que deixar as ruas sem policiamento. Sempre vai existir um dono do pedaço, um chaveiro, um xerife. Você tira um aparece outro”. Ao falar sobre a política de encarceramento do País, o juiz observou que o número de presos mais que dobrou nos últimos anos do Pacto pela Vida. Mas avaliou que a superlotação não é o problema. “Se a superlotação fosse o problema os presos estavam se rebelando por conta de falta de condição, mas o fato não é esse. Os presos estão se rebelando por conta de negócios. Estão se rebelando por interesse no mercado criminal do tráfico de drogas. Esta é a razão do presídio do Amazonas que a população precisa entender”. Com relação à responsabilidade do judiciário sobre o tema, o juiz afirmou que para julgar os presos provisórios (são 59%) a Justiça também precisa de estrutura, pois há juízes produtivos e reconhecidos internacionalmente. "Estou saindo da primeira Vara de Execução Penal porque cansei, você trabalha remando contra tudo e todos, tive dificuldade dentro do meu próprio tribunal. Vejo as unidades prisionais sucateadas, entregues à autogestão. Quem comanda dentro do Estado é o preso". O Sindasp divulgou nota de repúdio às declarações do governador Paulo Câmara de que haveria facilitação dos servidores na entrada de drogas na Colônia Penal Feminina do Recife (CPFR), onde foi gravado um vídeo com as presas em uma festa bebendo e usando maconha e cocaína. Na nota, pede respeito aos agentes, diz que em alguns plantões fica um agente para cuidar de 200 detentos e chama o governo a apresentar nomes de servidores envolvidos no crime, em vez de generalizar. Por meio de nota, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) afirmou que “todas as sindicâncias abertas em 2016 estão em andamento”, sem apresentar números. Ontem de madrugada, mais uma fuga foi registrada. Quatro presos quebraram a parede do pavilhão com uma prateleira em concreto e fugiram do Presídio de Tacaimbó, no Agreste, sendo recapturados em seguida. A unidade foi construída em abril de 2016 e é considerada de segurança máxima.
Confira a nota na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO
FUGA
Servidores não podem ser culpados pela irresponsabilidade do Governo de Pernambuco