Numa roda de conversa, adolescentes da comunidade de Roda de Fogo, no bairro dos Torrões, Zona Oeste do Recife, conversam sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Do outro lado da cidade, na Ilha Santa Terezinha, em Santo Amaro, área central da cidade, garotos terminam uma maquete sobre o lugar em que moram. Aos poucos, vão aprendendo sobre direitos, cidadania, sexualidade, meio ambiente, combate às drogas e outros temas importantes. O trabalho é desenvolvido há 17 anos pela ONG Adolescer, que lançou uma campanha virtual para arrecadar dinheiro e reformar os quatro prédios que sediam as atividades da entidade.
Quarenta crianças e 150 adolescentes em situação de vulnerabilidade social participam de encontros diários. Além de Roda de Fogo e Ilha Santa Terezinha, a ONG atua nas comunidades de Caranguejo/Tabaiares, na Ilha do Retiro e Afogados, e Santa Luzia, na Torre. Os projetos são financiados pelo Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente do Recife (Comdica) e pelo Consulado Alemão.
“Esses recursos são para as atividades, não para a infraestrutura das nossas sedes. Precisamos reformá-las. Há problemas nos telhados, pintura para ser feita, reparos nos prédios. Também temos que comprar livros e consertar ou adquirir novos computadores e outros equipamentos como fogão, por exemplo”, conta a monitora Renata Melo, responsável pelo grupo de adolescentes de Roda de Fogo e ex-aluna da ONG.
Nessa sede, há dois computadores, mas só um funciona. As paredes estão com reboco caindo e existem infiltrações no telhado de uma das salas do primeiro andar. O salão principal, onde acontecem as reuniões com os adolescentes, precisa de mais ventilação.
A campanha virtual de arrecadação está no site Vakinha (www.vakinha.com.br) com o nome “Reforma das sedes comunitárias do Grupo Adolescer”. Começou no dia 29 de junho e vai até 29 de setembro. A meta é somar R$ 30 mil em doações. Até ontem à tarde havia R$ 880, doados por 15 pessoas.
As crianças atendidas, com idades entre 8 e 11 anos, têm encontros todos os dias, no horário de contraturno da escola. Os adolescentes, de 12 a 17 anos, se reúnem três vezes por semana, também no turno oposto ao do colégio.
Uma das exigências é a frequência escolar. Os pais ou responsáveis por cada criança ou adolescente participam de reuniões a cada dois meses. Acontecem dinâmicas com a presença dos garotos e jovens para fortalecimento do vínculo familiar. A ONG conta também com a parceria das escolas públicas do entorno das comunidades.
“Os adolescentes atuam como multiplicadores de informação. Focamos em educação, saúde e cidadania. O que eles aprendem aqui repassam para os colegas da escola”, ressalta Renata. “É importante, pois eles muita vezes estão expostos à violência e tráfico de drogas”, complementa.
Moradora de Roda de Fogo, Carolayne Santos, 17 anos, participa da Adolescer há três anos. “A gente conversa sobre tudo. Aprendo sobre doenças sexualmente transmissíveis, ECA, direitos e outros assuntos”, relata a adolescente. Teatro, música, dinâmicas e debates são as atividades desenvolvidas.
Na sede de Santo Amaro, um dos salões tem três ventiladores, mas que não funcionam. O telhado também necessita de reparos, pois quando chove alaga uma das salas. “A Adolescer transformou minha vida. Não tinha perspectiva. Hoje estou no 6º período de serviço social e atuo como educadora da ONG”, diz Derivalda de França, 30.
“Buscamos tornar as crianças e os jovens protagonistas e autônomos. Falamos sobre bullying, alimentação saudável, higiene pessoal, uso seguro da internet, cultura de paz e outros assuntos”, explica o também educador Marcelo Monteiro, 29.