COLAPSO

Barragem de Jucazinho enfrenta pior cenário desde sua inauguração

O colapso de Jucazinho já dura nada menos que um ano e dois meses

Leonardo Vasconcelos
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Leonardo Vasconcelos
Publicado em 16/11/2017 às 8:30
Foto: Arnaldo Carvalho/ JC Imagem
O colapso de Jucazinho já dura nada menos que um ano e dois meses - FOTO: Foto: Arnaldo Carvalho/ JC Imagem
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Colapso: crise, perecimento, agonia. Todos os sinônimos são totalmente aplicáveis para definir a situação da Barragem de Jucazinho, no município de Surubim, Agreste do Estado. E também dos que dependem dela. O colapso já dura nada menos que um ano e dois meses. A população se vira como pode.

Após sofrer seis anos consecutivos de seca, este é o pior cenário da barragem desde a inauguração em 2000. O ajudante de eletricista Carlos Roberto Rocha de Lima, 52 anos, viu a barragem ser construída e disse que nunca a encontrou nessa situação. “Nunca pensei que fosse ver o leito assim, nessa secura só. Dá uma tristeza muito grande. Esse reservatório salvava toda a região”, disse.

A última vez que Jucazinho sangrou foi em maio de 2011. Carlos lembra bem. Com saudade. “Foi uma festa. Tudo isso aqui estava cheio. De água e de gente. Veio um pessoal de várias cidades pra admirar a barragem sangrando. Foi lindo”, disse, com brilho nos olhos.

Mas o brilho ficou opaco, vazio como o reservatório. No espaço com capacidade para 327 milhões de metros cúbicos de água se pode caminhar tranquilamente. Onde ainda existe água ela não chega nem ao calcanhar. Impressiona ver um reservatório que poderia fornecer até 1.300 litros de água por segundo não encher uma simples cisterna.

O tom vermelho da terra reforça o aspecto de devastação, evidenciada pelos peixes mortos encontrados no leito e pela carcaça de um cavalo a um metro de uma pequena poça-d’água barrenta. Ele não resistiu a distância. Nem o rio à seca.

Quinze municípios são (ou deveriam ser) atendidos pela barragem. O número de 800 mil pessoas beneficiadas, agora prejudicadas, é gritante. Um grito de socorro que aliás vem de bem perto. A menos de 500 metros do paredão da barragem, dona Ivonete Domerina de Arruda, 54 anos, sofre para manter o abastecimento d’água na casa, em uma pequena vila.

Apesar da idade avançada, ela desce duas vezes por dia até o leito da barragem, levando tonéis em um carro de mão. “Não é fácil achar água e quando acha é suja e fedida. Mas fazer o quê? Não tem outra opção. Então, é ela que eu uso para matar a sede dos animais e lavar os pratos e roupas. Lavar é jeito de dizer, porque parece que tá sujando mais”, reclama Ivonete.

O agricultor José Petronilo da Silva, 75 anos, também se queixa. Em tempos de crise e seca, está tendo que usar o pouco dinheiro que tem para comprar água em carro-pipa com os outros moradores da vila, mesmo morando bem ao lado da barragem. “A gente se vira como pode, né? O pessoal aqui se reúne, cada um dá uma coisinha, e paga uns 300 reais para o carro pipa vir pra cá. Mas quando divide quase não dá pra nada”, contou seu José. Quando questionado como é viver assim, ele recorre à sabedoria popular: “Sem água não dá, meu filho! Sem água até passarinho morre!”.

COMPESA

Segundo a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a barragem está na região que possui o pior balanço hídrico do Brasil. De acordo com a companhia, várias obras estão sendo realizadas atender a população. “Fizemos uma interligação com do Sistema Palmeirinha com o de Jucazinho para levar água a Surubim e região. Na Mata Norte, fizemos a interligação com o Sistema Siriji. Já na Mata Sul fizemos a obra da Adutora do Pirangi e está em licitação a Adutora de Serro Azul. Além disso, fizemos pequenas obras de inversão de fluxo. Tudo para apoiar a população neste momento difícil”, garantiu o presidente da companhia, Roberto Tavares.

De acordo com ele, a principal aposta para garantir a sustentabilidade hídrica da região é a Adutora do Agreste que deve receber as águas da Transposição do Rio São Francisco. “As secas sempre existirão, mas a gente precisa ter segurança hídrica, e isso virá com a transposição. Ela por si só não resolve o problema, precisa das adutoras para trazer a água para as cidades. Nesse conjunto a mais representativa é a Adutora do Agreste. Temos feito essa obra com muito esforço, ela só não está pronta porque os recursos federais não tem chegado a contento”, disse Roberto Tavares.

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