Clima é de medo em Enseada dos Corais, no Cabo de Santo Agostinho

Cinco pessoas foram mortas em menos de 48 horas na localidade. Pelo menos quatro mortes estariam ligadas ao comércio de drogas
Da Editoria Cidades
Publicado em 23/02/2018 às 6:07
Cinco pessoas foram mortas em menos de 48 horas na localidade. Pelo menos quatro mortes estariam ligadas ao comércio de drogas Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Em alguns dos mais bonitos cartões-postais de Pernambuco, destinos de milhares de turistas, o clima é de medo. Os homicídios registrados no Cabo de Santo Agostinho e em São José da Coroa Grande, na última semana, evidenciam o avanço da criminalidade e, principalmente, do tráfico de drogas no Litoral Sul do Estado. Em Enseada dos Corais, no Cabo, cinco pessoas morreram em menos de 48 horas. Ainda não se sabe se os crimes têm ligação, mas pelo menos quatro mortes estariam relacionadas ao comércio de entorpecentes.

Quem vive na área, confirma a versão. “Aqui era um bom lugar para morar. De uns três anos para cá, começou a aparecer todo tipo de gente. Eles são de fora e eu acredito que venham só para traficar”, afirma o aposentado Severino Bandeira, 62 anos, morador da Vila Esperança, onde quatro crimes ocorreram no mesmo dia.

Na madrugada da quarta-feira, três jovens foram mortos na Pousada de Dora, enquanto faziam uma festa em um dos quartos com duas mulheres. As vítimas são Lucas Araújo da Silva Oliveira, 22 anos; Everton Martins de Moura, 28; e um inquilino da pousada, que não teve a identidade divulgada. Em depoimento, as mulheres contaram que o homem que alugou o quarto teria envolvimento com outro grupo que ocupava a pousada. Enquanto estavam lá, o rapaz teria saído e voltado do cômodo vizinho com drogas.

Segundo testemunhas, pelo menos seis homens armados, com coletes da Polícia Civil, invadiram o local e iniciaram uma troca de tiros. As mulheres foram levadas para outro cômodo durante a execução. As investigações estão sendo conduzidas pela delegada Caroline Roveri, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

No mesmo dia, um homem identificado como Igor da Silva Mesquita, 21, foi encontrado morto a poucas quadras da pousada. É possível que as mortes estejam relacionadas e que a vítima tenha morrido em decorrência do tráfico. “Tudo acontece à luz do dia. Vemos gente envolvida com drogas usando rádios para se comunicar. Outros ficam nas lajes observando a movimentação. Querem transformar Pernambuco no Rio de Janeiro”, relatou a vendedora Nely Schabbach, 55, que tem uma casa de veraneio no local.

No fim da tarde de ontem, outro corpo foi encontrado em Enseada dos Corais, em um matagal às margens de uma estrada de barro. Segundo a polícia, George de Andrade Lima Rodrigues, 37, era um líder comunitário que há 10 anos era comerciante na praia e estava desaparecido desde terça (20). Ele foi sequestrado por quatro homens com farda de policial. A perícia constatou marcas de tiros na cabeça e um arame enrolado no pescoço de George. O DHPP investiga se o caso está relacionado aos outros homicídios.

A guerra entre traficantes no Litoral Sul ganhou os noticiários na semana passada, quando um triplo homicídio e uma chacina envolvendo cinco pessoas aconteceram em São José da Coroa Grande. De acordo com a Polícia Civil, 11 mortes foram registradas este ano em decorrência da disputa entre traficantes no município. Desde terça-feira, uma delegacia móvel foi instalada para ajudar nas investigações. Quatro inquéritos estão em aberto.

A violência decorrente do tráfico faz vítimas em outros pontos do litoral. É o caso da Praia do Paiva, no Cabo, que atrai surfistas de dentro e fora do Estado. “Todos os dias ouvimos relatos de furtos e arrombamentos a carros por aqui. A gente pensa que, por ser um local privado, com pagamento de pedágio, está seguro, mas não está. Não existe policiamento nenhum para tentar acabar com isso”, denunciou a estudante Victoria Andrade, 18. Na praia, uma placa foi fixada pela Associação Geral da Reserva do Paiva, avisando que a área é pública e que a gestão da reserva não se responsabiliza por furtos de veículos ou pertences.

Em Gaibu, o clima é de terror. “Não é mais medo, é pânico mesmo. Eu fico apavorada com a situação. Desde 2014 a criminalidade não para de aumentar. Já vi muito assalto acontecendo aqui, na beira da praia”, conta a comerciante Lourdes França, 80. Para ela, o turismo caiu muito na região, afetando o comércio. “A insegurança acaba afastando as pessoas”, lamentou.

Tráfico de drogas

De acordo com o comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar, que faz a segurança das praias da região, as ocorrências relacionadas ao tráfico de drogas têm se tornado rotina. “O tráfico é o principal responsável por tantas mortes e, mesmo com reforços e a erradicação dos pontos de venda, sempre aparece alguém de outro lugar montando um novo esquema de venda.”

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