Ela aparece nos mapas da capital pernambucana desde a segunda metade do século 17 e foi palco de acontecimentos históricos, como o cortejo imperial de Dom Pedro II, em 1859. Mas, nem o passado célebre da Rua do Imperador, localizada no bairro de Santo Antônio, área Central do Recife, impediu que a via, outrora famosa pelos ares boêmios e por reunir os principais jornais do Estado, caísse no esquecimento. As construções seculares, muitas recuperadas recentemente, contrastam com o estado de conservação das calçadas e o lixo espalhado pelos passeios.
É o caso da nova Escola de Saúde do Real Hospital Português, inaugurada ontem no antigo prédio do Hotel Recife. Erguida em 1916 pelo grupo Othon, a construção passou quase uma década abandonada, antes de ser recuperada. O projeto, que manteve a fachada original, é assinado pelo arquiteto Waldecy Pinto. O encantamento com o edifício pintado em tons de branco e ocre, no entanto, acaba assim que se olha para o outro lado da rua. Isso porque boa parte da calçada da esquina da Rua do Imperador com a Marquês do Recife está esburacada. Quem anda pelo passeio também precisa desviar do lixo e de cavaletes deixados pela prefeitura da capital.
A sujeira se repete mais à frente, na altura da Capela Dourada da Ordem Terceira de São Francisco do Recife. Mas nenhum trecho é tão emblemático quanto o que fica próximo à Praça Dezessete. “A rua e a praça são um horror. A prefeitura deveria cuidar melhor desta área. A quantidade de lixo, moradores de rua e usuários de drogas é enorme” criticou a aposentada Luciana Silva.
Para o auditor fiscal aposentado Cláudio Couceiro d’Amorim, que trabalhou durante 35 anos na Rua do Imperador, há muito o que ser melhorado. “Estamos falando da rua mais rica do ponto de vista histórico e cultural da cidade do Recife. As calçadas são muito mal cuidadas e os prédios privados estão abandonados. A inauguração da Escola de Saúde é um ponto positivo, porque estimula os outros a também cuidarem das construções”, pontua. É dele o projeto apresentado em 2017, cuja proposta é transformar a Rua do Imperador em uma via exclusiva para pedestres. A ideia já foi levada à gestão municipal, que recebeu com simpatia o projeto, mas não o tirou do papel.
Em nota, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) informou que enviará uma equipe na próxima semana ao local para fazer levantamento das ações necessárias à recuperação do passeio público e recolhimento do lixo. A Emlurb esclarece que a coleta de lixo é realizada diariamente, mas parte da população realiza o descarte irregular dos resíduos, fora do horário da coleta, poluindo o ambiente. Sobre a Praça Dezessete, a autarquia explica que aguarda uma ação da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Política sobre Drogas e Direitos Humanos junto aos moradores de rua para programar uma ação de manutenção.
A pasta de Direitos Humanos afirmou que equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social de Rua têm acompanhado as pessoas que vivem no entorno da Rua do Imperador e da Praça Dezessete, mas esclareceu que não se pode fazer remoção das pessoas das vias públicas. São oferecidos serviços como emissão de documentos e encaminhamento para os serviços públicos de saúde e assistência social.