Dez dias depois do atropelamento de quatro policiais militares por uma composição do Metrô do Recife (que resultou na morte de três deles), o maquinista que conduzia o trem envolvido no acidente prestou depoimento, nesta sexta, na sede da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), na Zona Oeste. Geraldo Abílio Neto, de 33 anos, confirmou que havia desligado os faróis do veículo, como determina o metrô em caso de cruzamento com outra composição, mas chegou a ver três homens nos trilhos e acionou os freios de emergência, mas o trem não parou a tempo.
Há quatro anos atuando na função, Geraldo disse que realizava a terceira viagem na Linha Sul II, entre Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes e o Recife. Ao cruzar com outro trem, no sentido contrário, na via I da mesma linha, desligou os faróis para não ofuscar o outro maquinista e quando reacendeu as luzes viu três homens com roupa preta enfileirados sobre as dormentes, a uma distância de aproximadamente um metro, tendo acionado de imediato os freios, mas o trem só parou em uma curva.
Após o impacto, o maquinista relatou ter acionado o comando operacional do metrô e avisado aos passageiros, por meio do sistema de som, que havia ocorrido um problema, sem entrar em detalhes. E, conforme instruções, ficou 40 muinutos na cabine, para as devidas averiguações.
Geraldo informou, ainda,que trafegava a uma velocidade de aproximadamente 70 quilômetros por hora, sendo 72 quilômetros por hora a máxima indicada para o local. E que a composição era do modelo antigo.Também contou ter pensado que os homens eram funcionários do metrô e só no dia seguinte soube se tratar de PMs. Desde o dia do acidente, o maquinista está afastado de suas funções e sob acompanhamento psicológico.
O acidente aconteceu quando seis policiais do Grupamento de Apoio Tático Itinerante (Gati) do 16º Batalhão da Polícia Militar (BPM) perseguiam traficantes que iriam matar um rival no local, segundo denúncia feita à central de polícia. Na perseguição, os traficantes pularam o muro de isolamento do metrô e quatro dos PMs fizeram o mesmo, dois ficaram nas viaturas. Ao avistar um trem em uma das linhas , os policiais teriam passado para a outra, sendo surpreendidos por outra composição.
O sargento Éneas Severino Silva, 40 anos, morreu no local. O cabo Adeildo José Alves, 40, já deu entrada morto no Hospital da Restauração. O cabo Clécio Vagner Santos, de 36 anos, morreu no dia 21, depois de ser transferido do HR para o Hospital da Polícia Militar. O soldado Luciano Antônio da Silva, de 30 anos, recebeu alta na última quarta-feira. Ele fraturou o braço esquerdo e sofreu uma contusão no abdome. Ele é a última pessoa a ser ouvida antes da conclusão do inquérito, que também aguarda resultado das perícias realizadas no local.