A Igreja Conceição dos Militares, no Centro do Recife, terá de volta os desenhos coloridos do século 18 em toda a edificação e não apenas no forro da nave (local onde os fiéis assistem à missa), como estava previsto no início da obra de restauração, em junho de 2017. Por orientação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as pinturas serão recuperadas nas oito tribunas, nos dois púlpitos, no guarda-corpo do coro e nas cercaduras de pedra (cantaria) das portas.
“Constatamos perda de 30% das pinturas jaspeadas – desenhos imitando a pedra jaspe – na nave da igreja e o Iphan sugeriu que as lacunas fossem refeitas a partir dos modelos existentes”, informa a restauradora Pérside Omena, coordenadora da obra. “Os desenhos foram raspados no século 19 e pintados de branco. Mas fizeram isso nas partes visíveis ao observador. Encontramos fragmentos da pintura nas áreas escondidas das tribunas (conjunto formado por balcões e sanefas) e dos púlpitos (lugar para a pregação dos padres)”, diz.
Ela concluiu um trecho da intervenção, como piloto, com a restauração de uma tribuna, da sanefa sobre a porta, da moldura de talha de um dos painéis do forro e de um atlantis (uma das figuras masculinas que seguram o forro). No piloto, que corresponde a 8,6% do trabalho, foram usados 130 cadernos com 25 folhas de ouro 24 quilates cada, num total de 3.250 folhas, para repor o douramento perdido na Igreja Conceição dos Militares. A previsão para a obra completa são 1.400 cadernos. A tinta azul da pintura é feita pelos restauradores.
“Recuperamos os desenhos com pontilhismo para não criar um falso histórico. De longe, não se percebe a diferença, mas quem se aproxima verá que a técnica é outra. Nas partes com a pintura original preservada, estamos fazendo retoques”, ressalta Pérside Omena. Ela descobriu a mesma pintura na capela-mor da igreja, num trabalho de restauração executado de 2007 a 2009. O jaspeado está sendo recuperado no forro da nave e do coro e também na cimalha (varanda que contorna o forro).
Pérside Omena coordena uma equipe de 42 restauradores e tem até maio de 2020 para concluir a obra, executada pela Grifo: Diagnóstico e Preservação de Bens Culturais. O serviço na Igreja Conceição dos Militares foi contratado pelo Iphan e está orçado em R$ 8,7 milhões, com recursos do PAC Cidades Históricas, programa do governo federal para recuperação do patrimônio tombado.
Localizada na Rua Nova, no bairro de Santo Antônio, a Igreja Conceição dos Militares está fechada para o público desde outubro de 2014. Representante da arte rococó brasileira, o templo católico teve a construção iniciada em 1723, no século 18. O forro, com painéis que retratam passagens da vida de Nossa Senhora, levou dez anos para ficar pronto, de 1760 a 1770.
As talhas da igreja são feitas no cedro, madeira nobre e muito usada para entalhe por ser mole, explica Pérside Omena. “Preenchemos as áreas carcomidas por cupins na madeira com resina e microesfera de vidro”, diz ela. As pinturas desgastadas são niveladas em duas etapas: a primeira com gesso e cola animal e a segunda com carbonato de cálcio e cola animal. “Toda a nossa intervenção é reversível”, observa a restauradora.