Pesquisa traça perfil de camelôs da Conde da Boa Vista

Preocupados, camelôs tentam buscar alternativas para não perderem espaço no projeto da Nova Conde da Boa Vista
Cidades
Publicado em 17/04/2019 às 10:00
Preocupados, camelôs tentam buscar alternativas para não perderem espaço no projeto da Nova Conde da Boa Vista Foto: Foto: Bianca Sousa/ JC Imagem


Josiclebson Barbosa tem 31 anos e é um dos centenas de camelôs que trabalham na Avenida Conde da Boa Vista. A rotina corrida do centro do Recife faz parte da vida dele desde muito novo. Aos sete anos, começou a vender as primeiras mercadorias nas ruas para ajudar seus pais desempregados e continua no ramo até hoje por não conseguir outra oportunidade de emprego. A realidade dele não é muito diferente da de seus colegas de trabalho. Na verdade, muitas vezes, o perfil se repete. Tornaram-se ambulantes pela necessidade.

Todos os dias, Clebinho, como é conhecido pelos outros ambulantes da área, sai de sua casa em Olinda para vender acessórios para telefone em frente ao Shopping Boa Vista, onde divide a calçada com outras dezenas de comerciantes informais. Além das oscilações no movimento das vendas, outra coisa tem preocupado os camelôs da Boa Vista: o projeto de requalificação da via, que limita o número de ambulantes no local. Dos 329 contabilizados, apenas 50 terão direito de continuar na avenida, em fiteiros construídos pela prefeitura.

“Se eu tivesse uma oportunidade melhor, com certeza não estaria mais trabalhando assim. Mas, a gente precisa, não é? Se realmente tirarem a gente daqui, não sei como eu e a maioria vamos nos sustentar. Dizem que vão nos colocar em outra rua, mas de que adianta ir para locais onde não há movimento?”, indaga Josiclebson, que só estudou até a 8ª série do ensino fundamental, por precisar optar entre estudar e trabalhar para ter o que comer.

A ambulante Maria Helena Miranda, 49, também se tornou camelô por não conseguir outras oportunidades de emprego. Ela, que já trabalhou como padeira e até como cobradora de ônibus, encontrou nas ruas do centro a melhor alternativa, dentre as possíveis, para se manter. No entanto, com o projeto da nova Conde da Boa Vista, Maria Helena teme que a situação mude. “Essa incerteza de não saber como ficar é o pior. Querendo ou não, é de onde a gente tira nosso pão. Se deixarem a gente trabalhar, mesmo com as dificuldades, conseguimos tirar mais que um salário”, diz.  

De cada quatro ambulantes, três optaram pelo comércio informal pela dificuldade de encontrar emprego, segundo pesquisa realizada pelo Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal (Sintraci) em parceria com o mandato do vereador Ivan Moraes sobre o perfil dos camelôs da Conde da Boa Vista. O levantamento também revelou que 94,7% dos 304 entrevistados se mantém apenas com essa renda, como é o caso de Marivaldo Rodrigues, 49 anos.

“Queria eu ter outra fonte de renda… sustento meus cinco filhos e minha esposa, que às vezes consegue um trocado lavando roupas ou fazendo faxina, com o dinheiro que ganho aqui. Quem está aqui na calçada está porque precisa, não é fácil”, conta. Morador da Zona Rural de Abreu e Lima, Marivaldo sai de casa às 4h30 da segunda-feira e só volta na noite do sábado. “Como é longe, passo a semana aqui na cidade. Durmo em um galpão onde guardo as mercadorias porque da minha casa para cá é, no mínimo, 1h40 de viagem”, relata.

De acordo com o presidente do Sintraci, Edvaldo Gomes, a alternativa é dialogar com a Prefeitura do Recife para tentar reverter a situação dos camelôs. “Queremos que os projetos incluam os trabalhadores da Conde da Boa Vista. Vamos mostrar ao prefeito que cabem camelôs na avenida”. , às 9h, o sindicato deve apresentar em audiência pública na Câmara do Recife um novo projeto, produzido pelo curso de Arquitetura da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), que inclui os mais de 300 camelôs na requalificação da Conde da Boa Vista.

Como andam as obras

Suas semanas depois do início das obras de requalificação da Avenida Conde da Boa Vista, na área central do Recife, passageiros de ônibus e pedestres se dizem, apesar dos transtornos de interdição, otimistas com a ideia de ganharem uma avenida com cara nova. Quem passa pela via no percurso entre as ruas da Aurora e Hospício, agora vê grande movimentação de máquinas e trabalhadores destruindo parte das calçadas.

Neste período, foram retiradas paradas de ônibus antigas e feitas obras de drenagem. A requalificação dos passeios também começou. Para esta primeira fase, a Prefeitura do Recife (PCR) ainda prevê o alargamento das calçadas e a instalação de novos mobiliários urbanos. Segundo a PCR o intuito é criar uma nova Conde da Boa Vista mais humanizada e organizada.

O aposentado Amaro Lopes, 72 anos, costuma ir ao centro do Recife com frequência. Enquanto caminha fazendo compras, ele aproveita para fiscalizar o que está sendo feito. “Vi que estão trabalhando nas tubulações e isso me animou, porque sempre que chovia ficava tudo alagado, principalmente nas paradas, que já eram tumultuadas e cheias de gente”, diz.

O auxiliar de cozinha Edvaldo Monteiro, 23, trabalha no centro e passa todos os dias pela via. Com as obras, o ônibus que pega para chegar na Boa Vista está alterando o itinerário, o que tem desagradado não só ele, mas outros passageiros. “O percurso interditado está horrível, tem muito trânsito e isso complica na rotina de muita gente. Mas, entendo que é preciso porque a situação da avenida não era boa para o pedestre. Espero que realmente façam melhorias no prazo dado”, comenta.

Segundo a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), cerca de 50 funcionários estão trabalhando nas obras, que devem ser finalizadas, nesta primeira etapa, contando a partir de hoje, em 105 dias. A primeira fase da requalificação deve seguir dividida em mais dois trechos. Da Rua Gervásio Pires a Rua do Hospício, sentido cidade, e da Rua Gervásio Pires a Rua José de Alencar, sentido subúrbio. Toda a requalificação, orçada em R$ 15 milhões, deve ficar pronta no final de 2020.

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