Dia dos Pais: Alberto virou pai do próprio pai

O filho abandonou o curso de engenharia para se especializar como cuidador e ajudar a família
AMANDA RAINHERI
Publicado em 11/08/2019 às 10:23
Foto: Foto: Filipe Jordão / JC Imagem


Aos 43 anos, Alberto Felipe dos Santos Silva, sabe bem como o amor tem o poder de transformar vidas radicalmente. Há dois anos, deixou o emprego e a faculdade de engenharia para assumir uma missão: cuidar de quem sempre batalhou para dar o melhor a ele e aos irmãos. É Alberto quem presta toda a assistência aos pais de criação Francisco Saraiva da Silva, 82 anos e Irece da Silva, 93. Ele também cuida de um tio de 63 anos, que precisou passar por procedimentos cirúrgicos em decorrência de um quadro de diabetes.

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Alberto chegou à família ainda bebê. Era filho de uma amiga que vivia na casa da mãe de criação. Irece teve três filhos biológicos, antes de ficar viúva. Foi quando um dia, na Praia do Pina, Zona Sul do Recife, conheceu Francisco Saraiva da Silva. Os dois começaram um relacionamento, que já dura mais de meio século. Foi ele quem criou, junto a ela, os filhos de sangue e também os de coração. “Foi sempre um bom marido e pai. Já criei tantos filhos que nem sei quantos foram. Sempre acolhi quem bateu em minha porta”, conta a idosa. O último a chegar foi Alberto, ainda recém-nascido.

“Sempre digo que tenho três mães: a do céu, a biológica e a de criação”, diz Alberto. Francisco nunca teve um filho biológico com Irece, mas adotou de coração todos que entraram na sua vida, inclusive Alberto, que o chama de pai e tem o seu nome no registro. “A vida inteira me dei bem com todos os filhos. Foi uma maravilha me tornar pai deles”, conta o idoso. A afinidade entre Francisco e Alberto era tanta que os dois chegaram a trabalhar juntos com corretagem de imóveis durante um período.

Foi há cerca de dois anos, quando a mãe biológica faleceu, que ele precisou assumir os cuidados com a família de criação. “Jurei a ela, antes de morrer, que cuidaria deles até o fim. Precisei pedir demissão do meu emprego para honrar a minha promessa. Eles sempre fizeram muito por mim e por ela, é uma forma de retribuir.”

Após um ano de cuidados, morando na casa da família, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, Alberto entendeu que precisaria de especialização para prestar a melhor assistência possível ao pai, à mãe e ao tio. Foi quando procurou o Centro de Estudos da Saúde (Cesa) para realizar um curso de cuidador e outro de curativista.

“Queria fazer o que eu já fazia por amor de forma mais profissional, com a ciência no meio, para garantir que estava desempenhando o meu papel da melhor forma”, conta. Mas Alberto foi além: está cursando o segundo período do curso técnico em enfermagem na mesma instituição, para melhorar os cuidados com a família. “O amor por eles me deu uma nova profissão, já que hoje também trabalho como cuidador de outras pessoas e pretendo seguir na área da enfermagem”, conta.

O cuidador é separado e pai de dois garotos: Lucas, 14 anos, e Miguel, 8. O mais velho vive com ele na casa da família. Ser pai do próprio filho, pai dos seus pais, cuidador e estudante é, por vezes, cansativo. “Mas faço com carinho. Ser filho, para mim, é isso: ter reciprocidade. Aprender a dar de volta tudo o que se recebeu ao longo da vida, no momento em que os pais mais precisam. Tem gente que abandona, que deixa o parente idoso isolado. Mas não foi assim que aprendi com eles. Não foram esses os princípios e os valores que recebi na minha criação”, defende.

Alberto tem no pai uma referência. “Ele é meu norte, o farol que me guiou e ensinou muito na vida.” Já o pai é grato pelo cuidado do filho. “Ele é um filho muito dedicado a todos nós”, elogia. A admiração pelo empenho também está estampada no rosto de Lucas. “Tenho muito orgulho do meu pai. É um exemplo pra mim.”

Homens e os cuidados com a família

O futuro técnico em enfermagem faz parte de um grupo pequeno de homens que assumem o cuidado com a família. “Abrimos cursos para cuidadores a cada dois ou três meses e a grande maioria dos alunos são mulheres. Os homens que procuram a especialização, geralmente, têm como objetivo trabalhar na área, não cuidar dos familiares”, conta a coordenadora do Cesa, Mônica Araújo.

“Na minha turma, a maioria era mulher. Acredito que muitos homens, quando casam, enxergam a esposa e os filhos como sua outra família. Não deixa de ser, mas você precisa ver de onde vem as suas raízes”, defende Alberto. “Acho que todo filho deveria realizar um curso de cuidador para saber como assistir os seus pais.”

Para ele, a paternidade também ajudou a despertar essa consciência. “É uma responsabilidade muito grande. Você tem que se tornar um exemplo para o seu filho. É difícil porque somos humanos e, nessa condição, somos falhos. Mas tento fazer da melhor forma, ser um espelho para o meu filho. Comandar esse barco às vezes é complicado, mas tenho tido bons resultados. Tenho um filho, graças a Deus, bem encaminhado. Ser pai, para mim, é uma jornada mágica, que me faz querer ser uma pessoa melhor para todos.”

Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
Miguel Filho dedica a vida à recuperação da filha Marcelinha - Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
Foto: Bianca Souza / JC Imagem
Alberto deixou o emprego e a faculdade para prestar assistência aos pais de criação - Foto: Bianca Souza / JC Imagem
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Miguel Filho dedica a vida à recuperação da filha Marcelinha - Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
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Alberto deixou o emprego e a faculdade para prestar assistência aos pais de criação - Foto: Bianca Souza / JC Imagem
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Alberto deixou o emprego e a faculdade para prestar assistência aos pais de criação - Foto: Bianca Souza / JC Imagem
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Miguel Filho dedica a vida à recuperação da filha Marcelinha - Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
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Miguel Filho dedica a vida à recuperação da filha Marcelinha - Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
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Alberto deixou o emprego e a faculdade para prestar assistência aos pais de criação - Foto: Bianca Souza / JC Imagem
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