O significado literal de fé remete à crença no transcendental. No linguajar do Morro da Conceição, Zona Norte do Recife, fé é mais abrangente do que isso. A comunidade nascida e criada sob os pés de uma imagem católica – mas que cultiva a religião de inúmeras formas e matizes – manifestou sua fé quando apostou na transformação do morro em casa, quando ali só havia mata. Seguiu com fé na união das pessoas para, pouco a pouco, tornar a região um bairro digno, com alguns índices sociais até melhores que os da média do Recife. Um povo que bota fé de que investir em um negócio criado e voltado para a região pode dar muito certo... Por isso, hoje, 8 de dezembro, é dia de celebrar Nossa Senhora da Conceição, mas também de lembrar quem faz daquele pedaço da cidade um santuário único.
Uma comunidade construída em torno da fé. Assim é o Morro da Conceição, localizado na Zona Norte do Recife. Nascido do ventre da Virgem Maria, o bairro tem sua história permeada pela devoção à santa que dá nome ao local, Nossa Senhora da Conceição. Mas se engana quem pensa que só há espaço para o catolicismo na comunidade. O morro da santa abraça também outras religiões, como a evangélica, as de matriz africana e a doutrina espírita, na mais pura expressão do sincretismo religioso.
A chegada da imagem, vinda da França em 1904, marcou o cinquentenário do dogma da Imaculada Conceição.
Segundo Pai Bonfim, é comum que os povos de terreiro frequentem as missas e prestem homenagens aos pés da imagem. “Nossas festividades são sempre nos dias dos santos católicos. Somos todos filhos do mesmo Deus.”
A união das diferentes doutrinas tem explicação: durante a colonização, o culto às religiões de matriz africana era proibido no País. Assim, os negros eram obrigados a cultuar seus orixás através das imagens de santos católicos.
A devoção à santa ainda faz parte da fé de um outro grupo da comunidade, os espíritas. Morador do Morro da Conceição há 18 anos, o comerciante France José Álvaro Mariante fundou, há cinco anos, o centro espírita Olhos da Vida, que realiza trabalhos sociais dentro e fora da comunidade. “Quando chegamos aqui, não havia um centro. Hoje, somos um grupo de 30 pessoas”, conta o kardecista. Desde que iniciou a atuação, o grupo espírita se dedica à caridade na comunidade. “Distribuímos sopão uma vez por mês no Centro do Recife e também aqui no Morro. Além disso, também fornecemos cadeiras de roda e camas hospitalares a quem precisa.”
Os frequentadores do centro, segundo ele, são, em sua maioria, devotos de Nossa Senhora da Conceição. “A santa não tem religião, ela é a mãe de todos nós. Frequentamos as missas, e outras pessoas, de diferentes religiões, também frequentam o nosso centro. É uma convivência muito boa.”