Dizer que o Galo da Madrugada teve de tudo este ano talvez seja a forma mais sem criatividade de se referir a ele, mas o que é o Carnaval se não um monte de clichês reunidos sob fantasias, purpurina e confetes? O Galo teve de tudo. E mesmo difamado, criticado, atacado, foi o que ele sempre é desde que começou a dar as caras na folia pernambucana: alegre do início ao fim.
O Galo pode ter sido o mais vazio dos últimos tempos, é verdade, mas eu não vi nenhum folião morgado. Aliás, basta colocar os pés na rua em dia de Galo da Madrugada que a gente entende porque o melhor do Brasil é o brasileiro e porque o melhor do brasileiro é o pernambucano quando resolve se fantasiar para o Carnaval [uma olhada na galeria de fotos do JC não deixa margem para dúvida.
Neste sábado, me disseram que o Galo não é para principiantes e eu concordei prontamente. Mas também é verdade que é bonito demais entrevistar um folião que 'descobre' o Galo pela primeira vez.
E nas listas de bonitezas que o Galo oferece tem a do folião que atravessa o caminho do repórter e se dispõe ajudar porque só quer é ser feliz e quer mais que os outros sejam, esteja esse outro trabalhando ou não.
Me lembrei agora dos quatro ou cinco foliões que me viram com uma camisa imprensa/TV, pediram para tirar foto e amanhã, provavelmente ressacados, vão olhar o celular e se perguntar quem é esse que nunca vi na vida.
Trabalhar ou brincar no Galo é aprender, como que por osmose que Chuva de Sombrinhas, aka 'Ai que calor', A Praieira deixa as 'turma doida' [no que estão certíssimas as "turma"].
Outra lição: mesmo com protetor solar, um dia no Galo equivale a uma semana inteira pegando sol em Carneiros [lembrando sempre que o sol de meio-dia do Recife vai das 7h às 16h30].
A rede de boatarias e a violência (ela, real, infelizmente) podem ter tirado as pessoas do Galo - vejam vocês, justo no dia em que o que mais se viu foi um reforço policial à altura da festa. E por falar na polícia é difícil achar uma justificativa razoável para a PM ter apreendido material da troça Empatando tua Vista. Carnaval, e Galo principalmente, é democracia e irreverência [se não aguenta, pra que veio?]
Escrevo esse texto suado, depois de horas de trabalho e de pegar um trânsito daqueles para voltar para casa. Mas é isso aí: o que o Galo pede da gente não é nada além do que a vida pede diariamente: vontade, paciência e alegria.
E que seja dito: o Galo ainda é o senhor da festa toda.
* Franco Benites é repórter-folião e conhece o Galo há mais de 30 anos