Nem precisa de bloco. Eles, sozinhos, já são uma festa para o folião. “Olha pro céu, la no alto, é um pássaro? É um avião?” Não, é o homem-aranha, pendurado na caixa d’água, no Alto da Sé. Quem nunca acompanhou/fotografou as estripulias desse super-herói, na saída do bloco “Enquanto Isso na Sala da Justiça?” Ou recebeu as bênçãos do Jesus Cristo de Olinda, com seus cabelos compridos e túnica branca? Bacia nas costas, as tartarugas ninjas viraram uma atração à parte do domingo nas ladeiras históricas. Cuidado! A bruxa tá solta e na vara. E ela aparece do nada. Figuras cativas, esses personagens incorporam o verdadeiro espírito farrístico-greador do Carnaval de Olinda e fazem os blocos mais queridos da cidade ficarem ainda mais divertidos.
Tudo começou do desejo de sair na turma dos super-heróis mais descolados do planeta. Mas ir vestido de quê? Foi quando o ator Jall de Oliveira teve a ideia de juntar duas coisas que ele gostava muito: ginástica e homem-aranha. Nascia ali, há exatos nove anos, um personagem que hoje já ganhou status de atração turística.
O homem-aranha fez tanto sucesso que agora o bloco “Enquanto Isso na Sala da Justiça” só sai depois da apresentação do super-herói, um dos pontos altos da folia. A fantasia simples dos primeiros anos foi se sofisticando. As acrobacias, também. Jall promete para hoje uma surpresa de tirar o fôlego dos foliões. “Fui aprimorando as habilidades, vendo os filmes, incorporando cada vez mais o personagem. A cada ano, inventamos algo. Mas sempre com muita segurança”, diz, sem entregar o jogo. Para não perder a hora, o homem-aranha e a saída do Enquanto Isso, a dica é chegar no Alto da Sé por volta das 10h.
Mais antigo e igualmente querido pelos foliões, o Jesus Cristo de Olinda já está nesse sobe e desce de ladeiras há 20 anos. Folião olindense que começou a brincar Carnaval ainda na barriga da mãe, José Correa Lima Neto, o Jô, é presença certa hoje nas ruas da Cidade Alta. “Se eu fosse cobrar um real por cada fotografia tirada, já estaria andando de BMW”, diz o técnico patologista que incorpora o filho de Deus. O curioso é como Jô foi parar na pele de Jesus. “Há 20 anos, olhando o bloco passar, escapei de morrer por uma bala perdida. Aí pensei numa fantasia para agradecer ter nascido de novo. A brincadeira deu certo e agora eu tô igual a José Pimentel. Não deixo de ser Jesus nunca mais”, brinca, numa referência ao ator que interpreta há décadas o personagem religioso na Paixão de Cristo.
A bruxa está solta, mas não assusta ninguém. Pelo contrário. No Carnaval de Olinda, e também no do Bairro do Recife, ela flutua sobre a multidão e arranca selfies por onde passa. Onipresente em troças e blocos, ela aparece e desaparece sem que o folião sequer se dê conta. Por trás da carismática figura está o artista plástico Tiago Santos.
Eles são verdes, carregam uma bacia nas costas e ainda têm grito de guerra. Encontrar com as tartarugas ninjas nas ladeiras é greia na certa. O bando, que não é bloco, já está nessa farra há 22 Carnavais. Até casa as tartatugas têm na Rua do Amparo. É lá o quartel-general da galera. A invenção, que começou com três pessoas, já chegou a reunir quase 30. E há alguns anos, ganharam filhotes. Hoje, a propósito, tem mais tartaruguinhas do que tartarugões. “Os adultos tão perdendo o pique. As crianças é que mandam ver”, brinca o engenheiro civil João Marcelo Costa, fundador da brincadeira.