Domingo de Carnaval em Olinda tem pinta de clássico. É aquele dia, talvez mais do que qualquer outro, em que a criatividade jorra das ladeiras produzindo uma enxurrada de fantasias e personagens divertidos que já fazem parte do imaginário da folia na Cidade Alta. Duvida? Pois, responde aí: onde, numa manhã só, você vai encontrar uma lista impagável como essa? Tem homem-aranha pendurado numa caixa d’água, super-heróis com superpoderes de fazer todo mundo rir e querer tirar selfie, Jesus Cristo abençoando os foliões de todos os credos, tartarugas ninjas com uma bacia nas costas e, para a felicidade geral da nação farrística-greadora, o Mucha Lucha voltou. É verdade que eles nunca foram embora, mas hoje, reza a tiração de onda, é dia de reestreia.
Isso tudo começando às 8h, porque o que é bom dura pouco. Então, é melhor aproveitar muito. Quem conseguir pós-Galo da Madrugada cair da cama e chegar no Alto da Sé no comecinho da manhã vai encontrar o ringue montado e os luchadores mais divertidos e escrachados da história da lucha libre da América Latina, incluindo o Brasil. Em plena forma física, pero no mucho, os meninos desafiam os valentões do pedaço e ensinam com quantas barrigadas se faz um campeão.
A essa altura, lá pelas 11h, o Alto da Sé já virou o metro quadrado com maior quantidade de super-homens, batmans, mulheres maravilhas e toda sorte de heróis e vilões, todos integrantes da legião do Enquanto isso na sala de justiça, o bloco com o super poder de transformar Fátima Bernardes em mulher-gato.
Como em Olinda cabe um mundo, em outras bandas da cidade, é o samba que impera. Não um samba qualquer. Mas a bateria do Patusco, cuja batucada é capaz de fazer até chover. Com 180 integrantes, o Grupo Anárquico Místico Carnavalesco Patusco sai às ruas precisamente às 8h59. Calma. A pontualidade britânica é só para assustar. Quem chegar depois vai encontrar a turma na Casa do Patusco, na Rua do Amparo, ao lado da igreja de mesmo nome. De lá, os batuqueiros carregam o verde e preto do bloco pelas principais ruas da Cidade Alta. Se você tiver pelos Quatro Cantos, Ribeira, Rua de São Bento, Prefeitura de Olinda, 15 de Novembro, Pátio de São Pedro, Prudente de Morais e ouvir uma batucada de tremer o chão, pode saber, é o Patusco passando.
Final de tarde chegando, deixe seu corpo se levar nos braços do bloco cujo hino é uma declaração de amor incondicional à folia na Marins dos Caetés. “Olinda! Quero cantar a ti esta canção. Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar. Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar. Em Olinda sem igual. Salve o teu Carnaval!” Estamos falando, claro, do Elefante de Olinda, que, desde 1952, embala os corações dos foliões e é um dos blocos mais amados do Carnaval. Para extravasar esse amor, basta chegar às 17h, em frente do Clube de Mães, no Guadalupe, e seguir a turma do vermelho e branco.
Agora, se a ideia é ampliar o raio da folia para além das ladeiras históricas, a dica é dar uma esticada até a Casa da Rabeca, na Cidade Tabajara. A partir das 14h, o Maracatu de Baque Solto Piaba de Ouro desfila com seus caboclos de lança. É uma prévia para já ir preparando o terreno para o 28º Encontro Estadual dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco, que acontece amanhã, na Praça Ilumiara Zumbi, também na Cidade Tabajara, a partir das 9h. O evento reúne nada menos que 50 agremiações de todos os cantos do Estado. É a grande celebração de uma das mais fortes expressões culturais de Pernambuco. Dessas que Olinda sabe fazer tão bem.