Menos de uma semana após roubo da fiação elétrica e desativação temporária da Estação de BRT Araripina, na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, outro equipamento foi alvo de depredação. Com fios e peças do sistema de refrigeração roubados, a Estação Riachuelo, no bairro da Boa Vista, está sem funcionar desde ontem. Mais que um problema de estações, insegurança e depredação tornaram-se rotina para quem precisa do Corredor Norte- Sul, que liga o Centro do Recife a Igarassu, por onde circulam cerca de 86 mil pessoas diariamente.
A estudante de fisioterapia Nataly Leandro costuma pegar o BRT na Estação da Riachuelo quando larga da faculdade, no fim da manhã. Ontem, quando chegou ao local, encontrou o equipamento desativado, por ser automatizado, ele depende da fiação elétrica para abrir portas, ler cartões e refrigerar. “É um absurdo, não tem segurança nem para quem espera o ônibus nem para
a própria estação”, diz.
O Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT) estima que a reparação dos roubos na madrugada de ontem estejam orçados
R$ 30 mil, a mesmo despesa para reativar a Estação Araripina. “Desconfiamos que tenha sido a mesma pessoa. A forma como agiram e retiraram os fios é semelhante, não é coisa de amador. Infelizmente não temos como acessar as imagens das câmeras de segurança porque quem fez isso conseguiu desligá-las”, explicou o coordenador de engenharia e manutenção do Grande Recife, Paulo Beltrão. A previsão é de que o local volte a operar amanhã sem refrigeração, que só deve ser retomada posteriormente.
Seja de fora ou de dentro, quem olha para as estações vê o reflexo do descuido e da insegurança. Além da fiação, placas do
piso e lâmpadas estão sendo roubadas com frequência, no intervalo em que não há circulação de ônibus. As oito linhas que fazem parte do percurso circulam das 4h15 à 0h30. Sem segurança desde maio, quando o contrato com a empresa BBC Vigilância foi encerrado, auxiliares de operação só ficam até as 23h e os equipamentos equipamentos estão sendo sucateados. Na maioria, portas e janelas estão quebradas . Sinais de pedradas se tornaram comuns e ar-condicionado é exceção.
O medo faz parte da rotina de quem trabalha nas estações. Agora sozinhos, eles se veem tão vulneráveis quanto os passageiros.
“Toda semana ouço relatos de colegas que foram assaltados. Um dos auxiliares já teve o celular levado três vezes. A gente se sente desprotegido e fica com medo porque ninguém quer perder a vida por besteira”, conta um auxiliar do Corredor Norte-Sul que prefere não se identificar. Em algumas das estações da PE-15, por exemplo, é possível ver além do auxiliar – dois por dia, sendo um em cada turno – dois ou três agentes, contratados pelas empresas operadoras para inibir a entrada de pessoas pela
lateral. “Tentam impedir que as pessoas entrem sem pagar, mas não estão preocupados com a segurança do local nem dos passageiros. Ficamos vulneráveis aqui o dia inteiro e sem escolha, porque precisamos do emprego”, lamenta outro auxiliar, que também não quis ser identificado. Entre as queixas dos funcionários também está a falta de banheiros e iluminação.
Quem também questiona a falta de segurança das estações é a professora Rinalva Lopes, que depende do BRT ir e voltar do trabalho. Para ela, mais que os problemas estruturais, merece atenção do Grande Recife a insegurança. “É péssimo, terrível. Aqui nunca tem ninguém, eu fico sozinha e, se noto qualquer movimentação estranha, entro em qualquer ônibus, mesmo que não seja o meu. É melhor pegar mais de um e esperar em outra estação do que ficar aqui sozinha”, conta. Na Estação Kennedy, onde a professora costuma esperar pelo ônibus que a leva para Abreu e Lima, portas estão sem funcionar, fios estão soltos e parte do teto está quebrado.
Dos 15 pontos de parada de BRT na PE-15, um dos piores é a Estação São Salvador do Mundo. Sem ar condicionado e com tapumes fazendo o papel de portas, o local tem praticamente todos os vidros trincados e com buracos de pedradas. Piso também está degradado e, em uma das portas laterais, há parafusos expostos. A situação praticamente se repete na Estação Aluísio de Magalhães.
A insegurança não está apenas dentro das cabines, mas também no entorno. Como ficam no centro da rodovia, a população precisa atravessar a PE para chegar até o ponto. Na Estação São Francisco, por exemplo, há uma passarela para que os passageiros atravessem sem medo. O problema é que, por ser grande e cheia de andares, o equipamento torna-se ponto fácil de assalto. “Quando constroem uma parada como essa, é importante pensar como as pessoas chegam até ela. A passarela é extremamente perigosa, a gente sempre ouve relato de assalto. Como largamos um pouco tarde, mesmo sendo errado, a gente prefere vir pelo meio da via e pular para chegar na rampa de entrada”, comenta o estudante Bernardo Ramos.
Segundo o GRCT, um grupo de trabalho foi criado para melhorar a segurança dos equipamentos. Em nota, o consórcio diz que “uma das propostas em análise é um convênio de cooperação técnica com a Secretaria de Defesa Social (SDS) para a utilização de policiais militares, em regime de Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES), nas estações de BRT”. Por enquanto, para tentar evitar as depredações, o órgão afirmou que a polícia tem intensificado rondas tanto no Corredor Norte-Sul, quanto no Leste-Oeste.