Novo bairro no Cais José Estelita acende polêmica

Clima esquentou, ontem, na Câmara de Vereadores do Recife, na audiência sobre o projeto para área do Cais José Estelita
Do JC Online
Publicado em 23/03/2012 às 6:56
Clima esquentou, ontem, na Câmara de Vereadores do Recife, na audiência sobre o projeto para área do Cais José Estelita Foto: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem


Debaixo de vaias e com a rejeição do público, a construtora Moura Dubeux apresentou na quinta-feira (23), pela primeira vez, o projeto de reocupação dos antigos armazéns do Cais José Estelita, no Centro do Recife. A proposta, divulgada em concorrida audiência pública no plenarinho da Câmara de Vereadores, prevê a construção de 12 prédios de 20 a 40 pavimentos, num trecho de 1,3 quilômetro de extensão do cais. O local está semiabandonado há mais de uma década.

De acordo com o diretor de Desenvolvimento Imobiliário da Moura Dubeux, Eduardo Maia, que representou na audiência pública o Consórcio Novo Recife, responsável pelo empreendimento, a ideia é erguer oito prédios residenciais na parte central do terreno e quatro edifícios para uso comercial e hoteleiro nas duas extremidades. Ele disse que 36 mil metros quadrados - 35% da área total - são destinados a uso público, para circulação e lazer, como manda a lei municipal.

Também estão previstas praças, ciclovias, bares, restaurantes, quiosques, pista de cooper, abertura e criação de ruas para diminuir o impacto do trânsito no Cais José Estelita e na Avenida Sul, a parte de trás do empreendimento. Um píer está projetado no cais e fontes luminosas seriam instaladas na bacia do Pina. Os armazéns mais próximos ao Forte das Cinco Pontas são mantidos, preservados e transformados num centro cultural a ser administrado pela Prefeitura do Recife.

O consórcio, formado pela Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos, arrematou num leilão, em 2008, a área da antiga Rede Ferroviária Federal S/A, após o término do processo de liquidação e extinção da RFFSA.

Arquitetos, artistas plásticos, jornalistas, filósofos, advogados, professores e estudantes que acompanharam o debate criticaram a proposta. "É um atentado à memória e à identidade da cidade", disse o arquiteto e professor da Universidade Federal de Pernambuco Tomaz Lapa, numa referência ao patrimônio ferroviário. "Mas sobretudo, é um atentado à capacidade de circulação e à mobilidade", acrescenta, destacando a altura das edificações.

Na avaliação do professor, prédio de 40 pavimentos "é incompatível com qualquer urbanismo são, no Recife ou em qualquer outra cidade do mundo." Tomaz Lapa fazia parte da mesa, representando a sociedade e defendeu a abertura da paisagem do Cais José Estelita para todo o Recife e não para a população que vai morar nos novos residenciais.

A jornalista Mariana Moreira, representante dos movimentos e grupos contrários ao projeto, distribuiu com a mesa cópias da petição on-line que circula há menos de uma semana, com 1.610 assinaturas de pessoas que discordam da proposta. "Vamos às ruas, escolas e universidades para coletar mais assinaturas", diz.

A promotora de Meio Ambiente do Ministério Público, Belize Câmara, vai exigir do Consórcio o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental, além de estudo de impacto de vizinhança e no trânsito. "O Ministério Público se posiciona pela reprovação do projeto", adianta Belize. Ela não se manifestou sobre o estado de abandono e favelização no entorno da área.

Leia mais no JC desta sexta-feira (23)

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