“Não queremos que nos tolerem, mas que nos respeitem”, avisou o babalorixá Marcos Pereira no início da 6ª Caminhada de Terreiros de Pernambuco, que movimentou o Centro do Recife na tarde desta segunda-feira (5). O evento, que conta com apoio da Prefeitura do Recife, tem como tema o combate à discriminação racial e religiosa. Uma das principais cobranças dos membros de mais de 2 mil terreiros do Estado é a efetivação das leis que tornam obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas das redes pública e privada.
Uma das coordenadoras da caminhada, mãe Elza de Iemanjá, diz que as Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008 são fundamentais para sedimentar uma cultura sem preconceito racial ou religioso. “Hoje essas leis não são postas em prática como deveriam”, lamenta.
Outra reivindicação antiga é a flexibilização da Lei do Silêncio, que não leva em conta a tradição da música nas cerimônias e rituais do candomblé, umbanda, jurema e outras religiões. “Não podem nos comparar com estabelecimentos como bares e casas de show. Somos instituições religiosas, e para nós o tambor é sagrado”, argumentou mãe Elza.
Membros antigos e novos dessas religiões estiveram durante a tarde no Marco Zero para partir em caminhada pelo Bairro do Recife e pelo bairro de Santo Antônio. Finalizaram o evento no Pátio do Carmo, com louvação aos orixás. A vendedora Mirelle Santos, 27 anos, está há apenas dois anos na Tenda Espírita Jesus Maria José, no Pina, mas é das mais engajadas. “É importante preservar nossas raízes africanas.” A aposentada Sônia Santana, de Casa Amarela, mantém a tradição na família e por isso levou as netas Cecília, 12, e Maria Clara, 9, que frequentam com ela o terreiro Ylê Axé Iemanjá Sabá.