PM usa WhatsApp para combater o crime

Grupos de moradores da Zona Norte estão diretamente conectados com a polícia, através da ferramenta de bate-papo
Ciara Carvalho
Publicado em 30/05/2015 às 14:30
Grupos de moradores da Zona Norte estão diretamente conectados com a polícia, através da ferramenta de bate-papo Foto: Guga Matos/JC Imagem


- Boa tarde, pessoal! Tivemos uma atitude suspeita agora em nosso estabelecimento. Um cidadão estranho com a camisa do Real Madri, cor branca, ficou na porta da loja, olhou para dentro, mexeu na bermuda, deu um tempo e depois foi embora.

– Essa pessoa passou por aqui também na frente da minha farmácia, com a mesma atitude suspeita.

- Deve tá fácil de encontrar. Camisa branca, do Real Madri, número 8.

– Ok. Registrado. Viatura seguindo para o local agora para averiguar.

A conversa travada entre dois comerciantes do bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife, e um oficial da Polícia Militar se deu no WhatsApp, uma das ferramentas de bate-papo mais usadas da internet móvel e a mais nova arma da polícia para ajudar no combate ao crime. A experiência, implantada há quatro meses, pelo 11º Batalhão em oito bairros da Zona Norte, deixa o cidadão conectado online com a PM. Por enquanto, os grupos criados reúnem seguidores de áreas específicas. Três estão funcionando: um de comerciantes, outro com representantes de agências bancárias e um terceiro com gestores de escolas públicas e particulares. Agora, quando o morador tem uma demanda, manda um zapzap direto para a polícia.

A reportagem acompanhou uma dessas ocorrências, na última quarta-feira (27). Outra comerciante, também da Tamarineira, mandou uma mensagem informando sobre um suspeito que estava rondando a sua loja. Passou as características físicas e imediatamente o batalhão enviou uma equipe de motos para o local. Dois rapazes que estavam em atitude suspeita, segundo a polícia, foram revistados, mas nada foi constatado e eles acabaram liberados. A troca de informações pelo zapzap, no entanto, já resultou em prisões, apreensão de armas e recuperação de objetos roubados.

A novidade tem recebido a aprovação dos moradores da área. “A sensação de segurança aumentou. Agora a gente vê uma situação estranha e já fala diretamente com a polícia. A resposta é imediata. E, quando os policiais chegam, muitas vezes nem perdem tempo indo no estabelecimento. Com as características dos suspeitos passadas pelo WhatsApp, os PMs já vão direto tentar fazer as abordagens”, conta a comerciante Nildecy Andrade, dona de uma farmácia na Tamarineira. Antes da iniciativa, seu estabelecimento havia sido alvo de dois assaltos em menos de um mês. Assustada, ela e o marido tomaram a iniciativa de procurar o batalhão e propor o uso da ferramenta. Hoje o grupo de comerciantes do bairro já tem 25 participantes.

Em pouco tempo, a ideia se expandiu para agências bancárias e escolas da região. O primeiro grupo conta com 40 pessoas cadastradas. O segundo reúne 29 seguidores ligados a 14 colégios. A divulgação das imagens via zapzap tem ajudado a polícia a atuar além da jurisdição do 11º Batalhão. No início deste mês, as fotos de um suspeito de assaltar uma agência do Itaú em Olinda, no Grande Recife, foram parar no WhatsApp do grupo de agências bancárias e os policiais conseguiram identificar o acusado, que terminou sendo preso em casa, no município de Paulista, também na Região Metropolitana.

Por mexer com informações confidenciais, a confiabilidade é essencial para garantir a efetividade das ações. Por isso, os primeiros grupos criados são restritos aos setores que a polícia identificou como prioritários, em função das demandas na área de segurança. Por enquanto, a ferramenta não está aberta à participação de pessoas físicas em geral. “Temos recebido muitas solicitações, mas é fundamental ter um rigoroso controle dos seguidores para reduzir o risco de trotes ou vazamento de informações”, explica o coronel Ronaldo Tavares, comandante do 11º Batalhão. Questionado se o uso da ferramenta pode gerar excessos por parte dos integrantes do grupo, o coronel diz que, por enquanto, isso não aconteceu. “Como todo canal de comunicação com a polícia, o risco de circulação de informações falsas ou distorcidas não está totalmente afastado, mas o uso tem sido feito com muita responsabilidade. Ajuda também o fato de todos os participantes serem identificados”, avalia o oficial.

Para o coronel Ronaldo Tavares, a iniciativa tem sido bem recebida porque a ferramenta ajuda a dar uma resposta mais rápida ao cidadão. “Tem sido uma alternativa importante para aproximar a população e compartilhar informações que ajudam não apenas na ação repressiva, mas, sobretudo, na prevenção. Essa conexão direta repercute na sensação de segurança e estreita a relação e a confiabilidade do cidadão no trabalho da polícia. O desafio é aumentarmos cada vez mais o número dos grupos sem perder essa capacidade de resposta”, diz o coronel.

Por enquanto, oito bairros estão no raio de ação do WhatsApp do 11º Batalhão, responsável pelo policiamento em parte da Zona Norte: Casa Forte, Casa Amarela, Apipucos, Tamarineira, Jaqueira, Santana, Poço da Panela e Parnamirim, todos locais nobres da cidade. A próxima expansão será em direção ao bairro da Macaxeira, também na mesma região. “Lá, vamos cadastrar inicialmente um grupo de comerciantes. Em cada grupo podem participar até 100 pessoas”, explica o capitão Rodrigo Grisi, oficial responsável pela administração dos grupos de WhatsApp monitorados pelo batalhão. Outro passo é a criação de um grupo com síndicos de prédios residenciais de Casa Forte. A ideia é mapear as ruas onde há maiores índices de violência, como assaltos e furtos, e cadastrar os representantes dos condomínios dessas áreas.

 

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