Após três dias de julgamento no Fórum Desembargador Henrique Capitulino, em Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife, o ex-médico cardiologista Cláudio Amaro Gomes, 60, considerado o mandante do assassinato do médico Artur Eugênio de Azevedo Pereira, morto em 2014, aos 35 anos, foi condenado a 27 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado e consumado, por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Junto a ele, também foi condenado a 24 anos de prisão - 22 de reclusão, 2 anos de detenção e 280 dias de multa - Jailson Duarte da Silva, tido como o articulador das pessoas que executaram do médico. Este último responderá por homicídio duplamente qualificado, motivo torpe e recurso que impossibilitou defesa, concurso de pessoas, além de dano qualificado.
Com o auditório do fórum praticamente cheio de familiares, amigos e médicos, a terceira fase da sessão começou às 10h38 da manhã dessa quarta-feira (12). Assim como nos outros dias, a sessão foi presidida pela juíza Inês Maria de Albuquerque Alves, da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Jaboatão dos Guararapes. Para essa fase, restava o debate entre acusação e defesa, e por fim a sentença. Para cada uma das partes foi dado um espaço de duas horas e meia para apresentação das teses.
Seguindo o rito processual, a acusação deu início à audiência apresentando mais de seis vídeos de depoimentos prestados por médicos que conviveram com Artur e Cláudio. Nas falas, os profissionais destacaram a qualidade técnica de Artur, e seu destaque entre os demais. Em todas as falas, registraram a existência de atritos entre a vítima e o réu. Outros, pontuaram que a maioria das cirurgias presididas por Cláudio eram feitas por auxiliares dele, e o cardiologista “levava a fama”. A função de auxiliar foi ocupada por Artur, por cerca de um ano. Em dois dos seis depoimentos foi falado que a primeira suspeita apontava para Cláudio, uma vez que, segundo as falas, era o que mais se incomodava com a ascensão profissional de Artur. “Na hora que eu soube, já pensei que o doutor Cláudio estaria envolvido”, destacou um dos que apareceram no vídeo.
Após um intervalo foi a vez da acusação, que foi mais técnica em sua argumentação. Logo após, o advogado de Jailson apresentou sua tese de que a única relação do réu com o crime seria trabalhar na firma e ter indicado Lyfferson para um emprego no local. Para defesa de Cláudio, que dividiu o tempo de duas horas e meia com a de Jailson, seguiu a linha de que o médico tentou passar no depoimento prestado no segundo dia de audiência, onde aponta Cláudio Junior como articulador. Nas falas dos advogados, Cláudio estava sendo vítima de um erro que paga há quatro anos e meio - tempo em que está preso no Centro de Observação Criminológica e Triagem Everardo Luna (Cotel).
Depois de uma pequena pausa pedida pelo júri durante a sessão, três dos sete jurados solicitaram a exibição das mídias gravadas no julgamento de Lyfferson Barbosa da Silva e de Cláudio Amaro Gomes Junior, julgados e condenados em 2016. Totalizando duas horas e 50 minutos de exibição, os vídeos traziam depoimentos da esposa de Lyfferson, Daniela Cristina da Silva, do próprio Lyfferson e da diretora de oncologia do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Jurema Teles. Os dois primeiros vídeos revelavam a relação de Cláudio Júnior com os possíveis executores de Artur, e como eles se conheceram. Jailson Duarte César indicou Lyfferson para trabalhar na firma de Cláudio Junior, e também apresentou Junior a Flavio Braz, outro suspeito que morreu antes de ser julgado.
O último, e considerado mais importante, apresentou o ponto de vista da diretora do Imip sobre Artur e Cláudio. Artur foi apontado como um “excelente profissional”, que “80% dos seus procedimentos eram de pacientes do Sistema Único de Saúde”, e tinha o sonho de se tornar professor. Falou também do maior ponto de conflito entre Cláudio e a vítima que foi a reprovação no estágio probatório. A nota dada por Cláudio à Artur, segundo Jurema, não condizia com o trabalho que a vítima exercia. E iria impedir Artur de prestar o concurso para ser professor de medicina torácica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A diretora ainda confirmou que Cláudio cobrava valores exorbitantes para conclusão de procedimentos cirúrgicos.
O médico Artur Eugênio de Azevedo foi assassinado a tiros no dia 12 de maio de 2014. O corpo do cirurgião só foi encontrado no dia seguinte, às margens BR-101, no bairro de Comporta, em Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife.
Nos momentos finais da sessão de ontem, amigos e parentes deram as mãos e fizeram uma grande roda de orações nos corredores do tribunal para esperar o resultado. Durante a audiência, a mãe de Artur Eugênio, Maria Evani de Azevedo, 70 anos, recebeu de amigos do filho uma camisa 10 da seleção brasileira com o nome dele e na frente escrito “Queremos justiça e paz”.
A condenação saiu no mesmo dia em que o filho único de Artur e da médica Carla Oliveira completou 6 anos de idade. A viúva de Artur Eugênio, embora estivesse cansada de acompanhar as mais de 14 horas diárias em todas as fases das audiências, separou a manhã de ontem para estar ao lado do filho e comemorar seu aniversário. “Passei um tempo com ele na escola, fizemos um lanche e cantamos parabéns com os coleguinhas. Ele estava bastante alegre e antes de vir para o tribunal deixei-o brincando com as primas”, contou.