Uma equipe da Polícia Civil de Pernambuco está em Garanhuns, no Agreste Meridional, para mais uma etapa das investigações do caso que chocou o Estado pela crueldade em que duas mulheres foram mortas, esquartejadas e enterradas por um trio de canibais - Jorge Negromonte, 50 anos, Isabel Cristina, 51, e Bruna Cristina de Oliveira, 25.
Na manhã desta quinta-feira (19), novas escavações estão sendo feitas na casa de número 598, da Rua das Emboabas, bairro Jardim Petrópolis, onde foram encontrados os corpos de Giselly Helena da Silva, conhecida como “Geisa dos Panfletos” (desaparecida desde o dia 25 de fevereiro) e Alexandra da Silva Falcão, 20 anos, que estava desaparecida desde o dia 12 de março de 2012.
O objetivo dessa nova escavação é tentar localizar o corpo de uma criança que, segundo Jorge Negromonte, apontado pela polícia como mentor das atrocidades, citou no livro de sua autoria “Revelações de um esquizofrênico”, como uma nova vítima que teria sido assassinada e enterrada em um dos cômodos da residência, chamado por ele de “o quarto do mal”.
O delegado Wesley Fernandes começou uma nova investigação para identificar quem seria essa criança citada no livro e as buscas levam a crer que essa menina pode ser irmã da criança (de cinco anos que morava na casa do trio) e que eles usavam como isca. “Eles mataram uma e deixaram outra viva para poder atrair as vítimas. As meninas, possivelmente, seriam filhas de Jessica Camila (desaparecida em Olinda, Região Metropolitana do Recife), que também pode ter sido vítima desse trio”, acredita o delegado .
O CRIME - A polícia chegou até os acusados após a família de uma das vítimas levar à delegacia uma fatura de cartão de crédito apontando que estariam fazendo compras no comércio de Garanhuns com a documentação dela. “Com essa informação em mãos, fomos até as lojas mencionadas na fatura. Chegando nesses estabelecimentos, solicitamos as imagens do circuito interno de segurança e conseguimos prender os acusados”, explicou o delegado Wesley Fernandes, da Polícia Civil.
Presos, os acusados confessaram estar usando os documentos da vítima e afirmaram também ter matado as duas mulheres e enterrado os corpos no quintal da própria casa. Quando chegaram à residência, os policiais foram recebidos por uma criança de apenas cinco anos que deu informações do crime para a polícia e apontado os locais onde estavam enterrados os corpos. “Ela já foi encaminhada para o Conselho Tutelar da cidade e receberá todos os cuidados necessários”, finalizou o delegado.
SUPOSTA FILHA - A polícia descobriu que a menina de apenas cinco anos que morava na residência e era usada como isca pelos criminosos, não era filha de Jorge Negromonte e Isabel Cristina, como acreditava a vizinhança. Segundo a polícia, a criança, peça-chave no desfecho que resultou na localização dos corpos, também era obrigada a comer a carne das vítimas e presenciava os assassinatos. Ela foi levada para o Conselho Tutelar a cidade e segundo os psicólogos do lugar, ela não apresentou até agora nenhum comportamento que configure em distúrbio ou coisa do tipo.
SALGADOS - Em depoimento Isabel Cristina, 51 anos, confessou que não só esquartejavam as vítimas, como também tiravam a pele dos corpos, cozinhavam a carne, se alimentavam e usavam boa parte dessa carne humana para rechear salgados (empadas, coxinhas) para vender em Garanhuns e Caruaru. Para comover os clientes, ela abusava da idade dizendo que precisava comprar medicamentos. Para o gastroenterologista Josenildo Correia, dependendo de como a carne das vítimas foi cozinhada, as pessoas que ingeriram o alimento correm o risco de contrair doenças virais. Entre elas, as hepatites B e C. A orientação, de acordo com o médico, é ir a um médico e fazer exames para tirar a dúvida. “Para as pessoas que costumam lanchar na rua: Façam um controle rigoroso na compra do alimento e, se houver dúvida, procure um médico”.
PRISÃO - Após o depoimento dos três acusados na última quarta-feira (11) na Delegacia de Garanhuns, eles foram indiciados por crime hediondo, ocultação de cadáver, uso de documento falso e estelionato – por terem usado cartões de crédito das vítimas. Bruna Cristina e Isabel Cristina foram levadas para a Colônia Penal de Buíque e Jorge Negromonte para a cadeia pública de Garanhuns.
PUBLICAÇÃO - No livro de 50 páginas e 34 capítulos, Jorge Negromonte descreve com frieza e detalhes como fez para atrair as vítimas para morte, como as matou, esquartejou, retirou a carne das vítimas e se alimentou, numa espécie de ritual macabro. A publicação, registrada pelo assassino no Cartório do Terceiro Ofício de Notas em Garanhuns (às 15h36 do dia 28 de março deste ano), traz ainda vários desenhos que ilustram o diário da morte. Nas imagens, mulheres despidas, mortas e cenas que despertam o leitor para uma alusão ao sexo.
Veja trecho do livro:
CAPÍTULO XXVI
A DIVIDIDA - Vejo aquele corpo no chão, Jéssica desconfia que ainda se encontra com vida, pego uma corda, faço uma forca e coloco no pescoço do corpo, puxo para o banheiro e ligo o chuveiro para todo o sangue escorrer pelo ralo. Ao olhar para o corpo já sem vida da adolescente do mal, sinto um alívio. Pego uma lamina e começo a retirar toda a sua pele, e logo depois a divido.
Eu, Bel e Jéssica nos alimentamos com a carne do mal, como se fosse um ritual de purificação, e o resto eu enterro no nosso quintal, cada parte em um lugar diferente...