Mãe que teve o filho levado pelo pai critica atuação da polícia no caso

Cláudia Boudoux não vê o filho desde o Natal do ano passado. Família cobra maior empenho nas investigações para encontrar Carlinhos
Renata Monteiro
Publicado em 26/07/2016 às 20:13
Foto: NE10


Há sete meses sem notícias do filho, Carlos Attias Boudoux, o Carlinhos, de 9 anos, a fisioterapeuta Cláudia Boudoux reúne forças para tocar a vida e cuidar das duas filhas, de 13 e 10 anos. Carlinhos e a irmã mais nova foram levadas para passar o Natal do ano passado com o pai, o empresário argentino Carlos Attias, e apenas a garota foi devolvida à mãe. De lá para cá, nem a Polícia Civil, que está investigando o caso, nem a Polícia Federal, que na época também foi acionada, conseguiram desvendar o paradeiro do menino.

"Não posso nem me dar ao luxo de sofrer, pois tenho outras duas filhas e preciso tomar conta delas, mas tem sido muito difícil ficar sem meu filho. Ontem (25) à noite e hoje (26), por exemplo, eu desabei. A única coisa que me resta é pedir forças a Deus para seguir lutando", comentou a fisioterapeuta.

Disque-Denúncia -
Carlinhos e o pai, Carlos Attias -

 

De acordo com Cláudia, ela procurou, na manhã desta terça-feira (26), a delegada Camila Figueiredo, do Departamento de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em busca de novidades sobre o caso, mas saiu decepcionada da delegacia. "A delegada disse que ainda não tem nada de novo sobre as buscas e que ela não pode caminhar com as investigações porque as solicitações que tem feito à Justiça não estão sendo acatadas", disse.

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A justificativa da responsável pelas investigações, entretanto, não convenceu a mãe, que se mostrou revoltada com a demora na conclusão do caso. "O que eu vejo é que a apuração está parada. A polícia está de mãos atadas, mas também é inoperante. Quando a pessoa quer, ela faz. Veja o exemplo da delegada Gleide Ângelo, que encontrou a menina Júlia em 15 dias no Estado do Amapá. Tenho certeza que se o caso do Carlinhos estivesse com ela eu já estaria com o meu filho", cravou Cláudia.

A fisioterapeuta referiu-se à história da pequena Júlia, de 1 ano e 9 meses, que foi subtraída pelo pai, Janderson Rodrigo Salgado Alencar, 29, e encontrada duas semanas depois na cidade de Santana, no Amapá, pela equipe da delegada Gleide Ângelo. A mãe da menina, que também se chama Cláudia, reencontrou-se com a criança na última segunda-feira (25).

Foi no dia 25 de julho também que a família de Carlinhos contabilizou sete meses longe dele. Vários familiares, inclusive, usaram o Facebook para lembrar a data e pedir maior empenho das autoridades nas investigações. "(...) Hoje faz exatamente sete meses que não vejo, converso ou até sinto o meu irmão (...). Enquanto estou na minha cama chorando ao escrever isso, as pessoas que poderiam estar ajudando a encontrá-lo provavelmente estão em suas camas, com suas famílias, e nem sabem da existência desse post", escreveu a irmã mais velha do menino na rede social.

A avó materna do menino também usou a internet para desabafar. "Quanto vale o amor de uma mãe? E qual o valor das lágrimas escorridas na face de uma mãe que chora diariamente pela falta do filho desaparecido? São valores incalculáveis. Neste contexto se encontra minha filha, Cláudia Boudoux, mãe do Carlinhos, filho amado que foi sequestrado há sete meses no Recife pelo próprio pai (...)", lamentou.

Por telefone, Cláudia pediu que os investigadores não deixem o caso cair no esquecimento. "Apelo ao secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, ao chefe da Polícia Civil, Antônio Barros, e ao governador Paulo Câmara que se empenhem em encontrar o meu filho. Carlinhos pode estar com o pai na Argentina ou em algum Estado brasileiro. Meu filho não está morto".

Procurada pela reportagem para comentar o caso, a assessoria de imprensa da Polícia Civil não retornou às chamadas e mensagens até às 20h41 desta terça (26). Qualquer informação sobre o paradeiro do menino pode ser repassada para o Disque-Denúncia pelo telefone (81)  3421-9595 ou através do site do programa.

RELEMBRE A HISTÓRIA

Cláudia Boudoux procurou o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil no dia 9 de fevereiro para denunciar o desaparecimento do filho, então com 8 anos. No dia seguinte, 10 de fevereiro, a fisioterapeuta se dirigiu à Polícia Federal (PF) para formalizar a denúncia, temendo que ele deixasse o País com o garoto.

De acordo com Cláudia, na noite de Natal, um oficial de Justiça foi até sua casa com um mandado para que os dois filhos do casal, uma menina de dez anos e Carlinhos, fossem para a casa do pai. 

Ela entrou em contato com seu advogado e foi orientada a não entregar as crianças. No dia seguinte, entretanto, os irmãos foram para a casa do pai. Eles deveriam voltar em dois dias, o que não aconteceu. Cláudia então procurou a Justiça e conseguiu uma ordem de busca e apreensão. Com um oficial de Justiça ela foi até os endereços do ex-marido, mas não o encontrou em casa nem na sua empresa.

No dia 30 de dezembro, o pai conseguiu novamente na Justiça o direito de passar o reveillón com os filhos, devendo devolvê-los à mãe no dia 2 de janeiro, mas não cumpriu com o combinado. Nesta data, o empresário deixou apenas a filha mais velha do casal com a mãe.

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