A alegria de sair com os amigos terminou em revolta para um homem de 27 anos na manhã desse domingo (23). Após ter saído da boate Metrópole, área Central do Recife, o cantor Airton Tayson Dantas Freire, mais conhecido como Airton Jesus, se dirigiu para o Terminal Integrado Tancredo Neves, localizado na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, junto a dois amigos. Em um relato publicado em seu perfil pessoal no Facebook, ele conta ter sido vítima de agressão física e verbal motivada por homofobia, enquanto estava no banheiro do local. Os supostos agressores seriam um zelador e dois vigilantes do terminal. Airton levou o caso para a Delegacia do Ipsep, também na Zona Sul da Capital, onde ele deu entrada no Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi lhe dada a autorização para realizar o exame de corpo delito no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife.
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No relato, o homem contou que foi humilhado e agredido por ter sido acusado pelo zelador do local de estar assediando outros usuários do transporte público dentro do banheiro, e que este funcionário teria desferido xingamentos para eles, tais como "abominações de Deus", e chamado os dois vigilantes. Segundo ele, não havia ninguém no banheiro no momento, além dele e dos dois amigos. "Fui surpreendido com uma primeira tapa desse criminoso evangélico, logo em seguida achando que os seguranças estavam ali para me proteger como usuário do terminal, sou mais uma vez surpreendido, os dois seguranças começaram a bater com seus cacetetes, com muita raiva", relatou.
Ainda conforme Airton, um dos vigilantes teria atirado para cima, após ele ter empurrado o zelador para sair do banheiro. "Corremos, com medo que pegasse algum tiro em nós, eu ainda atordoado e com o rosto sujo de sangue fui pego por um dos seguranças e fui humilhado e jogado para fora do terminal", narrou, ressaltando que pagou a passagem como qualquer outro usuário e que retornou para a integração depois de ter sido expulso por estar no seu direito. "Fui surpreendido mais uma vez pelo segurança, que me puxou pelo braço e segurando sua arma me falou 'Se você entrar no terminal novamente, você vai ver o que vai acontecer com você'".
Um dos amigos do denunciante, um atendente de telemarketing, também teria sido agredido, enquanto o outro teria conseguido fugir para o lado do metrô, cuja estação é ligada ao terminal de ônibus. "Um deles levou uma cacetada no ombro, mas ainda conseguiu pegar um ônibus que estava saindo da integração no momento. Eu fui o mais agredido", afirmou, em entrevista ao Jornal do Commercio. Para Airton, o mais doloroso foi o fato de algumas pessoas que estavam nas filas do terminal terem gritado para lhe pegarem. "Eu entendo que eles não sabiam o que estava ocorrendo, mas eu fui tratado como se fosse um ladrão", declarou.
Após o ocorrido, Airton se dirigiu para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira. Ele informou ter ficado uma hora na frente da unidade e ter sido negligenciado pelos atendentes, que teriam dito que o caso dele era de polícia. Apesar de ter uma viatura no local, o denunciante afirmou ter precisado ligar para o número 190 e abrir uma ocorrência via telefone. "Eles chegaram por volta das 9h e foram procurar os agressores, mas eles tinham ido embora. Um policial conversou em privado com o vigilante que estava no terminal no momento e eu fiquei dentro da viatura. Fui orientado a ir para casa e a prestar queixa na delegacia do meu bairro", relatou, enfatizando que abriu um boletim de ocorrência, no mesmo dia, na delegacia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.
Ainda no aguardo do resultado do exame de corpo delito, o homem foi até a Policlínica Professor Arnaldo Marques, no bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, onde fez exames para verificar se tinha quebrado alguma parte do corpo devido às cacetadas que teria recebido na cabeça e na cintura. No entanto, não houve fraturas. Por fim, a vítima comunicou que já acionou seu advogado e que pretende dar entrada em um processo contra os responsáveis.
Em nota, o Grande Recife Consórcio de Transporte informou que os profissionais do órgão são orientados a tratar todos de maneira igualitária, respeitosa e sem discriminação. O Consórcio ainda comunicou que vem realizando oficinas para conscientizar e combater o preconceito nos Terminais Integrados do Recife e Região Metropolitana, lembrando que os Terminais Integrados de Jaboatão e do Cabo foram os primeiros a receberem a ação. Nesses encontros, funcionários são convidados a repensar o espaço público como local para promoção e garantia de direito da população LGBT. Segundo o órgão, os próximos a serem contemplados ainda serão definidos.
Com relação ao incidente ocorrido no domingo no TI Tancredo Neves, o Grande Recife afirmou que um usuário ao sair do banheiro informou a um funcionário de serviços gerais que havia três homens dentro do espaço assediando as pessoas que lá entravam e praticando atos libidinosos. Diante disso, o funcionário foi até o local e solicitou que eles parassem com a abordagem e saíssem do local, quando teve início uma discussão. Segundo relato do funcionário, os homens aparentavam estar embriagados. Os vigilantes do Terminal foram acionados para intermediar a discussão. Ainda de acordo com o funcionário, não houve tiros.