Tiros com armas de grosso calibre, planejamento minucioso do crime, reféns e um ataque a um dos batalhões mais bem preparados de toda região. Assim foi a madrugada no município de Surubim, no Agreste do estado nesta terça-feira (10). Sem pudor, cerca de 40 homens fortemente armados invadiram a cidade e fizeram, sem medo da lei, um dos maiores e ousados ataques a bancos nos últimos anos em Pernambuco.
O comandante do 22º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Raul Cavalcante, disse à Rádio Jornal Limoeiro que o grupo criminoso que explodiu quatro agências bancárias em Surubim, cercou a sede do batalhão para impedir a saída dos policiais. A unidade, que é responsável pelos municípios de Belo Jardim, Feira Nova, Machados, Passira e Salgadinho, além de Surubim, é equipada e uma das mais bem preparadas de toda região, mesmo assim não foi motivo para a quadrilha, que estava fortemente armada, se sentir amedrontada.
A ação, que durou cerca de 1h30, não pôde ser controlada pelos sete policiais militares que estavam de plantão no 22º Batalhão. Isso porque os agentes se viram “encurralados” pelos criminosos. Em uma ação esquematizada, um grupo se concentrou em frente ao quartel e queimou um carro no portão de entrada do local, na tentativa de impedir a passagem das viaturas. Ao mesmo tempo, iniciaram uma intensa troca de tiros com os agentes, que tentavam fazer com que eles não entrassem na unidade.
“A ordem foi não atirar pois haviam reféns com eles”, conta o subcomandante do batalhão. Cerca de sete equipes da facção criminosa se dividiram nos principais pontos da cidade. Em 10 a oito picapes, os integrantes se posicionaram nos bancos, outra ocupou o quartel e outras fecharam a entrada da cidade e a passagem dos principais bairros de Surubim.
Ao amanhecer, a população, que nem dormiu assustada com a quantidade de tiros que ouviram, saíram de suas casas e se depararam com as marcas das balas no centro da cidade, que chegaram até a atingir a parede do primeiro andar de uma das agências.
Usando fuzis automáticos, que dão rajadas, o grupo amedrontava os reféns, que ainda não se sabe quantos foram.
Apesar da investida ser esperada pela população, por conta dos diversos roubos a bancos que foram feitos nos municípios vizinhos, ninguém estava preparado para conter a quadrilha. “Esta foi uma situação atípica em Surubim”, lamenta o subcomandante da PM. Clientes das agências bancárias de outras cidades, por não terem mais bancos abertos na região, se deslocavam até Surubim, e isso pode ter despertado o interesse da quadrilha, já que quase não restavam mais bancos no entorno da região a serem abordados.
Ainda de acordo com o subcomandante, Surubim pode ter sido escolhida pela facção por ter quatro grandes bancos muito próximos, o que facilitaria a investida da quadrilha que já é especialista nesse tipo de crime.
Há a confirmação de dois cofres explodidos, mas ainda não se sabe se eles conseguiram levar alguma quantia em dinheiro.
Após a saída dos criminosos da cidade, as viaturas voltaram a circular normalmente. Viaturas de cidades vizinhas também juntaram-se ao efetivo de Surubim.
Na fuga, que não pôde ser contida pelos militares, os bandidos espalharam grampos pela PE-90, que fica na saída de Surubim. A 18 Km do centro da cidade, eles queimaram mais um carro, de modelo Estrada.
O estrago feito durante a investida não prejudicou apenas os bancos. Um borracheiro, que fica na PE-90, contou, em entrevista ao Jornal do Commercio, que desde as 4h da manhã trocou os pneus de mais de 70 carros que passavam na rodovia e eram surpreendidos com os diversos grampos na pista. Entre os veículos atendidos pelo homem, está uma viatura da Polícia Militar, que teve os quatro pneus furados com o artefato.
Várias câmeras de segurança flagraram a ação dos bandidos. As imagens serão usadas para fazer a identificação dos envolvidos. “As diligências continuam. Será feita a identificação do grupo, de onde eles vêm e todos os detalhes. A polícia judiciária já iniciou as investigações”, conta o subcomandante.
Uma ação conjunta da Polícia Militar, Civil e Federal darão continuidade às buscas.
Giovani Santoro, chefe de comunicação social da Polícia Federal, conta que ainda é muito cedo para traçar uma linha de entendimento sobre a facção. Recentemente houveram investidas a bancos em Buenos Aires e em Pombos, e com base na primeira perícia, há fortes indícios que é o mesmo grupo. “Pelos artefatos deixados, o tipo de explosivos, e a maneira que agem, tudo leva a crer que se trata da mesma quadrilha”, conta Giovani.