Mães de bebês com microcefalia precisam de apoio psicossocial

É preciso as unidades de saúde se mobilizarem para acolher essas mulheres e as crianças
Cinthya Leite
Publicado em 05/12/2015 às 6:44
É preciso as unidades de saúde se mobilizarem para acolher essas mulheres e as crianças Foto: Diego Nigro/JC Imagem


A rede de suporte psicológico para as mães de bebês com microcefalia precisa se reestruturar o quanto antes, assim como as unidades destinadas para a reabilitação dessas crianças. Por enquanto, não há atendimento psicossocial específico para essas famílias, que geralmente ficam abaladas pela discrepância entre o filho idealizado e o real. “Quando as mulheres vivenciam isso logo após o nascimento do filho, num momento em que estão afetadas emocionalmente pelas alterações hormonais do pós-parto, é aceitável que muitas tenham dificuldade para lidar com a situação de adversidade”, explica o psiquiatra Amaury Cantilino, membro da Comissão de Pesquisas da Saúde da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria. 

O médico reforça que é preciso as unidades de saúde se mobilizarem para acolher essas mães. Atualmente a rede municipal passa por um processo de reestruturação para fornecer um suporte psicológico para as gestantes com ultrassom indicativo de microcefalia. No pós-parto, o acolhimento deve ser continuado. “Essas mães precisam lidar com uma nova dinâmica familiar. Pode aparecer insegurança na forma de cuidar do bebê. Isso aumenta o estresse, e as mulheres ficam sujeitas a desenvolver quadros de ansiedade”, reforça Amaury. 

O médico chama atenção ainda para a necessidade de a família olhar para a dupla mãe e bebê. “Quando o companheiro e outras pessoas ajudam nesse cuidado, a mãe percebe que não está sozinha. E quando são oferecidas terapias de reabilitação à criança, bate um alento. São detalhes importantes para se superar uma adversidade.”

O psiquiatra Amaury Cantilino reforça que mães de bebês com microcefalia precisam lidar com uma nova dinâmica familiar. "Pode aparecer insegurança na forma de cuidar do bebê", diz

A dona de casa Jéssica Sales, 18 anos, tem recebido apoio da mãe para cuidar do filho Lucas, 1 mês e 9 dias, que nasceu com suspeita de microcefalia. “Não esperava receber essa notícia. Minha mãe é que tem me tranquilizado muito. Agora, se for confirmado que ele realmente tem microcefalia, nada muda. O amor vai ser o mesmo”, conta Jéssica, que levou ontem Lucas ao Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), onde o bebê iniciou um acompanhamento. 

Diariamente, o Huoc tem recebido uma média de 15 bebês com suspeitas da anomalia congênita. “É uma situação de muita angústia para mães de qualquer classe social. Elas ficam angustiadas para saber as limitações que os filhos podem ter. A rede de atenção à saúde precisa mesmo se reestruturar. Isso está sendo feito aos poucos, com a descentralização dos atendimentos”, diz a chefe do Setor de Infectologia Pediátrica do Huoc, Ângela Rocha. Ela tem observado a formação de grupos de autoajuda no hospital, enquanto as mães aguardam atendimento. “É uma ocasião em que compartilham experiências, incertezas e angústias. De certa forma, esse momento de desabafo ajuda as famílias”, conclui a médica. 

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