As autoridades de saúde dos Estados Unidos confirmaram a relação entre o vírus zika e a microcefalia em fetos, revela um estudo publicado nesta quarta-feira, que acaba com meses de debates sobre a questão.
"Cientistas dos Centros para o Controle e a Prevenção de Enfermidades (CDC) concluíram, após revisar cuidadosamente as evidências existentes, que o vírus zika causa microcefalia e outros problemas cerebrais graves no feto", informou a agência federal.
Essa confirmação se baseia, em parte, em uma série de estudos no Brasil, onde milhares de bebês nasceram com a má-formação no ano passado, ao mesmo tempo em que havia um surto de zika.
"Este estudo é um ponto de inflexão no surto de zika", disse o chefe dos CDC, Tom Frieden, acrescentando que "já está claro que o vírus causa microcefalia".
Não havia uma pista conclusiva, nem qualquer tipo de evidência que pudesse oferecer uma prova definitiva dessa relação, afirma o relatório publicado na revista especializada New England Journal of Medicine.
Em contrapartida, a decisão de estabelecer este vínculo se baseia "na crescente evidência apresentada em vários estudos publicados recentemente e na avaliação cuidadosa por intermédio de critérios científicos estabelecidos", declararam os CDCs.
Foram publicados mais estudos para "determinar se as crianças com microcefalia nascidas de mães infectadas com o vírus zika são a ponta do iceberg dos potenciais efeitos danosos e de outros problemas de desenvolvimento" que este vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti pode causar, acrescentou Frieden.
MÁ-FORMAÇÃO
O vírus zika foi identificado pela primeira vez em Uganda, em 1947, mas a doença não foi analisada a fundo, e seus sintomas se mostravam leves: eczema, dor nas articulações e febre. A maioria dos infectados sequer apresentava sintomas.
O zika foi identificado pela primeira vez no Brasil no início de 2015. Nove meses depois, em setembro, observou-se um aumento incomum de bebês nascidos com microcefalia.
O Brasil confirmou 907 casos de microcefalia e 198 bebês falecidos com essa má-formação genética desde que o vírus se propagou, informaram autoridades no mês passado.
O Ministério brasileiro da Saúde indicou que ainda investiga 4.293 casos suspeitos.
"A microcefalia severa e outras anormalidades que foram observadas em muitas crianças são consistentes com uma infecção que acontece no primeiro, ou segundo, trimestre da gravidez", de acordo com o informe do New England Journal of Medicine.
Até onde se sabia, nenhum vírus transmitido por um mosquito havia causado problemas de má-formação. O último patógeno infeccioso conhecido que causou uma epidemia foi o vírus da rubéola, há mais de 50 anos.
Os especialistas que analisaram a evidência de microcefalia no Brasil observaram um aumento similar de bebês com má-formação na Polinésia Francesa, onde se registrou um surto de zika em 2013 e 2014. O número de recém-nascidos com microcefalia foi menor, porém: oito.
Nos Estados Unidos, seis em cada 10 mil bebês nascem com microcefalia.
A falta de clareza sobre se o zika poderia ser considerado, de forma conclusiva, como a causa dessas más-formações pode ter contribuído para que o público entendesse mal os riscos dessa doença, acrescenta o informe.