O Hospital Universitário Oswaldo Cruz, localizado na área central do Recife e referência pública para o tratamento de doenças infecciosas em Pernambuco, fechou dez leitos do isolamento adulto, quinta-feira (26), por falta de enfermeiros e técnicos de enfermagem. De acordo com o coordenador do Serviço de Infectologia do Huoc, Demetrius Montenegro, o setor vai funcionar apenas com seis leitos, até a contratação de novos profissionais.
No momento, a escala de plantões diurnos e noturnos é feita por 18 pessoas, quando o ideal seriam 36, informa Demetrius. A redução dos leitos a menos da metade do que vinha sendo ofertado atinge pacientes com HIV e doenças infectocontagiosas que necessitam de isolamento, avisa o médico infectologista do Hospital Oswaldo Cruz Vicente Vaz, citando como exemplos tuberculose, varicela (catapora), herpes zoster e influenza.
Cinco anos atrás, o Huoc foi indicado como referência para isolamento de pacientes com sintomas da influenza H1N1. O setor também foi preparado para casos suspeitos de infecção pelo vírus Ebola, lembra Demetrius. “Nós assumimos essa responsabilidade, é inaceitável perder os leitos”, diz ele. De janeiro a 19 de maio de 2016, Pernambuco registrou 12 mortes causadas pela gripe A H1N1.
Na quinta-feira (26), a equipe deu alta médica a pacientes e transferiu outros para a enfermaria de adultos, equipada com 16 camas e onde são internados os doentes que não necessitam de isolamento. Mas a solução cria um novo problema, observa Vicente Vaz. “Cada enfermaria tem quatro leitos. Se eu boto uma pessoa com tuberculose na enfermaria, vou perder três leitos porque não posso misturar os pacientes”, explica.
O número de enfermeiros e técnicos vem diminuindo há meses, informa Demetrius, em função de aposentadoria, encerramento de contrato, licença gestante e licença médica. Segundo o médico, a direção do hospital acionou o Governo do Estado para convocar profissionais classificados numa seleção simplificada. Até quinta-feira (26), ninguém havia sido chamado para completar o quadro.
“A gente vinha se ajustando, porém a situação chegou a um ponto que a direção teve de tomar a decisão de fechar os leitos para garantir a boa qualidade do atendimento. Um médico consegue acompanhar 16 pacientes, mas um enfermeiro não dá conta de 16 pacientes. Ele aplica medicamentos, dá banho, alimenta, é um cuidado muito humano, em especial num serviço de alta complexidade, como o nosso”, destaca Demetrius Montenegro.
Ele acrescenta que essa redução também tem rebatimento no programa de residência médica (formação profissional de três anos após a graduação) do Hospital Oswaldo Cruz, que funciona como hospital-escola da Universidade de Pernambuco (UPE). “O número de residentes é calculado pela quantidade de leitos disponíveis, com essa diminuição o médico não terá a quantidade exigida de pacientes para ele acompanhar”, observa.
Vicente Vaz chama a atenção para uma possível sobrecarga em outras unidades hospitalares da rede pública, sem os 16 leitos do isolamento adulto. Um dos médios residentes do Huoc, que também atua no Hospital Otávio de Freitas, no Sancho, bairro da Zona Oeste do Recife, disse que já se deparou com dez pacientes de aids na emergência do HOF.
“Numa situação crítica, ficam 30 pacientes internados em macas no corredor do Otávio de Freitas e em condições normais são de 10 a 20”, diz o residente Waldenio Soares. “É um caos imenso que tende a se agravar com o fechamento dos nosso leitos”, ressalta Vicente. Ele disse que além da falta de pessoal, o isolamento adulto já estava com limitações pela infraestrutura precária.
Residentes e preceptores pagaram com recursos próprios a reforma de armários e bancas da sala de evolução de pacientes em tratamento, informa o infectologista. E agora estão se organizando novamente para ajeitar o banheiro da sala. Quinta-feira (26), Demetrius entregou à direção do Huoc, à reitoria da UPE e à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, a quem o hospital é vinculado, documento relatando as dificuldades e destacando a importância do serviço para a sociedade.
Em memorando enviado ao isolamento adulto, a Unidade Setorial de Enfermagem explica a necessidade de bloquear os leitos, para manter a continuidade da assistência, devido ao déficit de pessoal. O diretor de Comunicação do Sindicato dos Servidores da UPE, Pedro Henrique Sobral, disse que o Huoc está com 114 leitos fechados, em todos os setores. A diretoria da UPE não foi localizada se pronunciar sobre o assunto.