Quando Maria Letícia nasceu, a atendente de telemarketing Camila Rodrigues, 29 anos, passou a viver momentos que nunca imaginou. A amamentação foi um deles. Mas, depois de 15 dias, o que ela esperava ser um ato para estreitar laços entre mãe e filha se tornou uma angústia.O leite da mãe de primeira viagem acabou e a bebê passou a usar fórmulas lácteas. Com o nascimento do segundo filho e maior preparo psicológico, o leite voltou e o coração dobrou de tamanho com a chegada de Davi Miguel, hoje com 2 dois meses.
“Na época foi muito traumático para mim. Eu queria amamentar e fiquei desesperada por não conseguir. Me culpava e questionava se estava sendo menos mãe por isso, eu chorava de tristeza e minha filha, de fome”, conta. Para Camila, a falta de orientação no pré-natal sobre a possibilidade de não ter leite dificultou tudo. “Não tive informação nem preparo psicológico na época. Depois, eu mesma busquei informação, vi que posso estimular. A experiência fez toda a diferença.”
Algumas mães não amamentam por falta de leite. Outras, porque machuca e a dor intensa impossibilita a mamada. Mas, as causas não são apenas físicas. Para Cecília Sales, psicóloga perinatal do Hospital Agamenon Magalhães (HAM), o psicológico pode ser determinante. “O puerpério é um momento de grande sensibilidade e vulnerabilidade da mãe. A falta de leite pode estar relacionada a essa fragilidade do momento”, esclarece. De acordo com Cecília, é preciso informação para que as cobranças diminuam. “Ninguém é menos mãe por não conseguir amamentar, até essa pressão pode influenciar na falta de leite. Amamentar vai além de dar o peito. O colo, a troca de olhares, o contato pele a pele são tão importantes quanto”, acrescenta.
A jornalista Fabíola Moura amamentou por três meses intercalando com mamadeiras. No início, a cobrança interna foi grande e ela só conseguiu mudar quando pensou nos limites do corpo. “As pessoas falam muito sobre a importância e cobram que a mãe amamente. Se não é como esperado, a sociedade condena. Essa foi minha primeira experiência de culpa materna. Só fiquei bem depois que entendi que não é o peito que vai definir o amor” conta a mãe de Maria Alice Pinho, 6 meses.
Na contramão das mães de primeira viagem, a designer Bruna Roazzi, mãe de Sereno, dois meses, conseguiu amamentar. “Ouvi muito relato negativo e já tinha na cabeça a certeza de passar por isso. Dei sorte e está dando tudo certo. São momentos super prazerosos porque você está ali nutrindo, pele a pele, os dois se olhando. É uma conexão muito forte. Espero poder amamentar por um bom tempo.”
No Recife, mães que não têm a mesma sorte de Bruna podem procurar ajuda no Banco de Leite Humano do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), nos Coelhos, Centro do Recife. Só em 2018, mais de 4.300 litros de leite foram doados e distribuídos para cerca de 2.800 bebês. Foram mais de 63 mil atendimentos de assistência à mulher e à criança na amamentação. “O apoio é importante e, por isso, o tema do Agosto Dourado este ano é “Amamentação: incentive a família, amamente a vida”. Ele foi escolhido para destacar a importância do amparo e da presença da família incentivando a amamentação e dando forças à essa mãe. Ela precisa saber que não está sozinha”,ressalta a coordenadora do banco de leite, a pediatra Vilneide Braga.
Quem estiver procurando ajuda ou quiser doar pode acionar o banco de leite do Imip pelos telefones (81) 2122-4719 ou (81) 2122-4103.. Segundo o Ministério da Saúde, o leite materno é capaz de reduzir em 13% a mortalidade infantil. Desde 2017, o ministério criou a campanha Agosto Dourado, para discutir e reforçar a importância da amamentação exclusiva até os seis meses e a continuação durante os dois primeiros anos da criança.