Dados apresentados nesta quinta-feira (05) pelo Ministério da Saúde mostram que a BCG foi a única vacina a alcançar a cobertura vacinal pretendida nos anos de 2017 e 2018.
O levantamento foi feito com informações acessadas na base do DataSus em 15 de julho deste ano e foi apresentado na Jornada Nacional de Imunizações, em Fortaleza. Foram consideradas as metas de 16 vacinas do esquema básico e de reforço indicadas para crianças de até um ano, de um ano e gestantes. Para as imunizações BCG e Rotavírus, a meta era vacinar mais de 90% do público alvo, e, para as demais, superar os 95%.
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A BCG, que previne a tuberculose, teve cobertura de 96,41% em 2017 e de 96,09% em 2018. Já a hepatite B, que também deve ser tomada ao nascer, atingiu 84,7% em 2017 e 85,7% em 2018. Meningococo C, pentavalente e pneumocócica foram outras que ficaram perto dos 85% em 2018.
Um dos casos que mais chama atenção é da vacina de poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, que atingiu 100% de imunização em 2013 e caiu para menos de 90% desde 2016, obtendo coberturas de 84,43% (2016), 83,82% (2017) e 88,6% (2018). A pólio já foi erradicada do país, mas ainda há casos registrados em localidades da Ásia Central.
Apesar de ter se elevado nos últimos anos, a cobertura da vacina dTpa para gestantes atingiu apenas 62,81% em 2018, enquanto a meta é chegar a 95%. A vacina previne contra difteria, tétano e coqueluche.
Para enfrentar a queda das coberturas vacinais, o Ministério da Saúde tem atuado com o Movimento Vacina Brasil, que inclui ações como incentivo para que os municípios estendam o horário de funcionamento das unidades básicas de saúde e reforcem a vacinação nas fronteiras. Entre os dias 16 e 27 de setembro, o ministério fará uma ação para vacinação contra o sarampo e a febre amarela nessas áreas.
Outra frente da pasta é a promoção de pesquisas para entender as causas da redução das coberturas de vacinação e a percepção social da imunização. A coordenadora geral substituta do Programa Nacional de Imunizações , Francieli Fantinato, representou o Ministério da Saúde na Jornada e defendeu ainda o engajamento dos profissionais de saúde no tema, para que não se perca oportunidades de vacinar também adolescentes e adultos.
"É de extrema importância que os profissionais tenham consciência, que em qualquer momento que o adolescente ou adulto estejam na unidade de saúde, seja avaliada a carteira de vacinação para que não seja perdida a oportunidade de vacinar".
Febre Amarela
Outra doença que está com cobertura vacinal abaixo da meta de 95% é a febre amarela. Segundo os dados apresentados pelo Programa Nacional de Imunizações, apenas 64% do público-alvo foi imunizado. O governo federal trabalha agora para intensificar a vacinação nos três estados da Região Sul, onde foram mapeadas áreas que requerem vacinação imediata, áreas de risco mais elevado e outras de risco mais moderado.
No Brasil, apenas Distrito Federal, Goiás e Roraima atingiram a meta de vacinar 95% do público-alvo. Santa Catarina tem uma das menores taxas de vacinação, com menos de 40%.
A vacina de febre amarela é indicada para pessoas que vivam ou vão viajar para áreas que tiveram vacinação recomendada. No entanto, há restrições e contraindicações, que podem ser consultadas no site do Ministério da Saúde.
Atualmente, a vacinação é recomendada na totalidade ou em partes de 19 estados: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Sarampo
A tríplice viral, que previne caxumba, rubéola e sarampo, também está com a cobertura vacinal em queda. Em 2016, somente a primeira dose atingiu 95,4%, enquanto a segunda ficou em 76,71%. Em 2017, tais coberturas caíram para 90,52% e 75,29% e, em 2018, chegaram a 90,84% e 75,63%.
Especialistas que participam da Jornada Nacional de Imunizações atribuem os surtos de sarampo registrados no ano passado na Região Norte e neste ano em São Paulo à queda nas coberturas vacinais.
Diretor da OPAS
Com casos de sarampo voltando a ser registrados em países de diferentes continentes, o diretor do Fundo Rotatório da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), John Fitzsimmons, defendeu na Jornada Nacional de Imunizações que haja uma colaboração internacional para que a demanda pela vacina contra a doença seja atendida.
Em entrevista a jornalistas, Fitzsimmons disse que haverá um encontro na semana que vem em Washington, nos Estados Unidos, que reunirá atores internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial de Saúde, para discutir a situação do sarampo.
"Todos estarão lá, todas as outras regiões da OMS estarão representadas, assim como Unicef, CDC e outros. É outra oportunidade para solucionar problemas".
Assim como São Paulo, onde mais de 2 mil casos já foram registrados, os Estados Unidos enfrentam um surto de sarampo que já dura um ano no estado de Nova York. Segundo a OPAS, o surto se espalhou em comunidades religiosas e ainda há o receio de que casos em crianças estejam sendo encobertos pelas famílias.
O diretor do Fundo Rotatório, que auxilia países da América Latina e do Caribe na compra de vacinas, disse que neste momento trabalha para atender a um pedido do Brasil de mais doses de vacina contra o sarampo.
"Estamos em parceria com outras organizações como a Unicef e o CDC [Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos], e estamos trabalhando com eles para liberar doses para o Brasil", disse ele, que acrescentou que é preciso fazer um trabalho de gerenciamento das encomendas que já haviam sido feitas aos fornecedores.
Editorial: Sem vacina não tem solução contra o sarampo
O sarampo está se alastrando pelo País. Esse é um sinal de alerta ligado hoje em todos os Estados brasileiros e que deve assim permanecer, mesmo quando não se registrar nenhum caso, tomando-se por base o que aconteceu entre julho de 2015 e julho de 2016. Naquele período o País entendeu que estava zerado o registro com um ano sem a constatação endêmica do vírus, tendo recebido da Organização Pan-Americana da Saúde o certificado de região livre do sarampo endêmico, o que levou o Ministério da Saúde a considerar que estávamos a um passo de receber o certificado de eliminação do sarampo pela Organização Mundial da Saúde. Qual o quê! Agora mesmo o Ministério faz reunião com 11 Estados que apresentam casos e está sendo levado a criar um plano de ação para interromper a circulação do vírus.
Pernambuco está entre os 11 Estados que nos últimos 90 dias registraram 1.680 casos e as autoridades sanitárias voltam a bater na mesma tecla que há muito tempo vem sendo difundida pelos meios de comunicação: o sarampo é uma doença grave, altamente contagiosa, e apesar de nosso Estado ser o único – entre os 11 – que alcançou a meta de 95% de cobertura vacinal nos últimos três anos, há percentuais baixos em algumas cidades e aí reside o grande perigo, porque desses lugares com baixa cobertura pode circular o vírus e atingir outras áreas.
Advertência
Por isso, a advertência do secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, deve chegar a todos os municípios, envolvendo autoridades locais e as populações: “A prevenção do sarampo é simples e está disponível a todos, perto de nossas casas, em um posto de saúde. A doença é totalmente evitável por meio de uma vacina segura e eficaz, que ainda protege contra a caxumba e a rubéola. Mesmo assim, estamos registrando números preocupantes de cobertura vacinal em nossa população, o que cria bolsões de pessoas que podem contrair sarampo”.
Esse alerta é de tamanha importância que deveria entrar no campo das preocupações dos que dão força e propagação às redes sociais, hoje tão presentes diante das dificuldades políticas e econômicas por que passa o País. Deve-se recorrer até ao exemplo histórico de Oswaldo Cruz, o jovem sanitarista que enfrentou revoltas populares por causa da lei que tornou obrigatória a vacina contra a varíola no Rio de Janeiro, em novembro de 1904. As de hoje são dificuldades históricas pelas quais já vivemos e deveremos passar em outros momentos, mas sempre advertidos que quando se trata de endemias com graves consequências para a população, como é o caso do sarampo, estamos perante uma questão vital, capaz de abalar famílias e grupos sociais inteiros, deixando sequelas profundas ou mesmo luto, o que deve dar ao tema um posto prioritário nas preocupações coletivas.