Trema! reúne o melhor do teatro nacional de grupo do Recife

Grupo Magiluth coordena o festival que segue até o próximo domingo
Bruno Albertim
Publicado em 14/10/2013 às 6:00


Um festival feito por gente que tem o teatro no sangue – e que faz teatro com sangue, se preciso. Alguns dos grupos mais afiados da cena contemporânea brasileira dão início, hoje, à segunda edição do Trema, o festival feito com cara, coragem, tesão, algum dinheiro, nenhum apoio oficial e muita brodagem pelo grupo Magiluth.
A abertura, logo mais, no teatro Marco Camarotti, é com o grupo paulista Lume, coletivo de sete atores que tem se destacado pelo “redimensionamento técnico e ético do ofício de ator”. Com o espetáculo Café com queijo, eles apresentam um patchwork de conversas e histórias, “vozes e vidas resgatadas da clandestinidade” por andanças dos próprios atores pelo interior do Brasil.


“O (grupo) Lume tem uma forte investigação sobre o lugar do corpo, o lugar da própria teatralidade na sociedade”, pontua Pedro Vilella, diretor do grupo Magiluth, idealizador e um dos coordenadores do Trema.
Com peças relativamente curtas, cerca de uma hora e meia de duração cada uma, o panorama vai até domingo com um eixo curatorial definido (veja a programação nesta página): são espetáculos com o próprio fazer teatral em pauta, grupos militantes do próprio ofício que radicalizam na pesquisa de linguagens e, de tabela, investigam o próprio lugar da teatralidade no mundo contemporânea.


Amanhã, noutro exemplo, Ficção, da Cia Hiato, também de São Paulo, é um mosaico de relatos biográficos de cada um dos atores envolvidos. Centrados nas relações dos atores com seus familiares (com a presença de pais e irmãos reais), são apresentados depoimentos ficcionais em que as ideias de “intimidade” e “documento” estão relacionadas. “É um espetáculo que discute os limites entre ficção e realidade”, aponta Vilela.
Depois de não conseguir aprovar o festival no Funcultura ou editais nacionais, o Magiluth viabilizou sua segunda edição com a parceria com o Festival de Teatro do Agreste (Feteag) - panorama de espetáculos nacionais e locais que tem início hoje, com abertura compartilhada com o Trema, através do espetáculo Café com queijo. Na quinta, dia 17, o espetáculo do grupo Lume se apresenta no Teatro Rui Limeira Rosal, no Sesc Caruaru. A maratona de espetáculos do Agreste se estende até o próximo dia 27.


“Ano passado, convidamos grupos que eram parceiros do Magiluth e já tinham circulação aprovada. Então, compartilhamos tudo num calendário só. Esse ano, tivemos que bancar tudo”, diz Pedro Villela, diretor do Magiluth e idealizador do Trema. “Aproveitamos alguns dos espetáculos aprovados para o Feteag para completar a grade”, diz ele. O 23º Feteag é orçado em R$ 280 mil, com incentivo do Funcultura e apoio da Caixa Econômica Federal.
O grupo teve que investir cerca de R$ 100 mil no festival. “Sim, é um dinheiro que poderia ir pro caixa do Grupo, mas é um investimento no pensamento da cidade, do grupo. Se temos uma cena mais forte na cidade, isso também nos interessa. Não adianta ser rei em terra de cego”, diz ele, comentando as dificuldades de produção. “Nacionalmente, existe uma esquizofrenia. As pessoas começam a valorizar um evento depois de cinco edições. A Funarte lançou um edital para legalizar o apoio que já dava a alguns festivais. O Funcultura é sempre uma igógnita”, diz ele.


 “Ma a relação com as empresas privadas é que eu acho mais esquizofrênica. A Lei Rouanet tem servido muito mais para o marketing dessa empressas do que para a política cultural. A gente até aprova o porjeto na lei, mas é difícil captar. Estamos num processo de privatização cultural muito grande. Elas deixam de pagar imposto, para investir em cultura, mas não é o governo que escolhe, elas escolhem sempre espetáculos de grande apelo, comerciais. O Bradesco pega R$ 6 milhões e investe no Circo de Soleil. E faz um grande marketing nisso”.
Domingo, o Trema é encerrado com (mais uma) apresentação de Viúva, porém honesta, a pouco hortodoxa e elegantemente heavy metal versão do grupo para o clássico de Nelson Rodrigues.


Espetáculo da maturidade do grupo, Viúva sintetiza a trajetória e as pesquisas de linguagem do Magiluth nos últimos nove anos: a potência do jogo entre os atores, a cena mais poluída, construída com muitos elementos, entrecruzamos de imagens, linguagens híbridas. “Tem também a possibilidade de leitura diferente do Nelson. Tinha gente que procurava evitar o Nelson, o Viúva trouxe esse respiro.” Cria que ultrapassou os limites do criador, Viúva, porém honesta vai circular por mais de 40 cidades brasileiras do próximo ano. “Deve ser a última vez que apresentamos, este ano, no Recife”.

 

 

TAGS
Trema
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory