A pesquisa O espaço do passo marca o encontro dos movimentos e das investigações de duas artistas que têm uma longa relação com o frevo: Flaira Ferro e Valéria Vicente. Nesta quarta-feira (15/1), às 19h, elas fazem uma demonstração prática do projeto, com a participação dos músicos Spok e Lucas dos Prazeres, no Centro Cultural Correios, com entrada gratuita.
No mesmo local, teve início o curso Aspectos Visuais da Cena e Dramaturgia, ministrado pelo diretor de arte Marcondes Lima, também parte do trabalho de Flaira e Valéria. A pesquisa delas foi aprovada no Fundo Pernambuco de Incentivo à Cultura (Funcultura) e parte da produção vem sendo disponibilizada no blog oespacodopasso.wordpress.com desde 2013.
A dupla conta, em entrevista por e-mail, que descobriu afinidades na forma de trabalhar e viver o frevo: "Viemos de trajetórias artísticas e gerações diferentes, e vimos uma na outra a possibilidade de trocar experiências e pensar em caminhos de criação e composição para o frevo dança. A pesquisa surgiu dessa vontade em comum: trabalhar o frevo na atualidade", afirmam.
Entre as etapas da pesquisa estavam: "Vivenciar o Carnaval como observadoras participantes de diversas situações em que o frevo acontece, anotando e discutindo as nuances dessas sensações e o espaço de visibilidade do passista" e "Estudar diferentes relações da execução dos passos com a música tradicional".
"Percebemos o quanto é rico um principio básico do frevo, que é a contaminação do músico com o dançarino. Achamos que há uma especificidade nesse encontro que, ao mesmo tempo em que tem bases na tradição, é também um desafio para quem está acostumado à formatação do frevo, tanto da música quanto da dança. Outra coisa muito importante, mas assustadora, é que o passista é um artista muito desvalorizado, mesmo em meio a esse período de reconhecimento do frevo como patrimônio imaterial. Não existem políticas públicas, não existe espaço digno dentro do Carnaval e das prévias", destacam as artistas.
Um desdobramento da pesquisa já nasceu. Frevo de casa junta dança e música, com improvisação. A primeira apresentação aconteceu em setembro de 2013, durante o Conexões Criativas. Nesta quarta-feira (15/1), é a segunda ocasião em que ele será mostrado. "O Frevo de casa surgiu a partir de um laboratório que nasceu do incômodo da dança estar sempre vinculada à marcação do ritmo. Nós estudamos como variar essa relação entre passo e música, e queríamos ver ao vivo como as contaminações que deram origem ao frevo poderiam ser revividas hoje em dia. O encontro com Spok e Lucas dos Prazeres foi muito especial, porque eles também demonstravam interesse em tocar frevo de forma mais livre. Rapidamente vimos o potencial cênico deste trabalho, batizado por Afonso Oliveira", explicam Valéria e Flaira.
Segundo elas, a pesquisa continua. Sobre os próximos passos, ambas adiantam: "Primeiramente, construir a estrutura cenográfica que estamos idealizando e realizar apresentações e temporadas do Frevo de casa. Temos um projeto de circulação com parceiras de outros Estados. Há também uma proposta de documentário poético, com Flora Pimentel, e um trabalho de fotografia de Ju Brainer. Mas também pretendemos continuar a pesquisa para dar continuidade a outras ideias interessantes que surgiram e não tivemos tempo de amadurecer".