Claudia Raia brilha em Crazy for you

Na versão do espetáculo da Broadway, atriz tem ponto alto da carreira
Bruno Albertim
Publicado em 14/07/2014 às 11:04


Feliz o dia em que Claudia Raia saiu de uma sessão em Nova Iorque encantada e obcecada com a ideia de encampar uma montagem brasileira de Crazy for you, o primeiro musical de sapateado da Broadway que, no início dos anos 1990, fez com que os Estados Unidos voltassem a dividir a excelência mundial do gênero com a Inglaterra. Apresentado este final de semana no Teatro Guararapes, a versão do espetáculo estrelado por Raia é de uma precisão e alcance dignos da montagem original. O enredo não poderia ser mais água com açúcar ( ou melhor, adoçante, para combinar com o grande preparo físico dos protagonistas e do elenco de 26 bailarinos atores): um milionário sonhador, filho de banqueiros, apaixonado pelos palcos, recebe a missão de executar a hipoteca de um velho teatro familiar do interior dos EUA. Lá, se apaixona pela durona Polly Baker (Raia), filha e arrimo da família teatreira. Com elementos típicos das farsas, como trocas de identidade e desencontros pueris, é uma história para toda, rigorosamente toda, a família. Mais Sessão da Tarde, impossível. Estivemos, portanto, diante de um espetáculo em que importa menos o que se conta do que o como se conta é dito. Com canções dos irmãos Gershwin traduzidas para o português com delicadeza por Miguel Falabella, orquestra potente e um elenco primoroso, o espetáculo é um deleite. São dez toneladas de cenário (que viajam em cinco carretas), 130 figurinos, 32 microfones (alguns só para captar o som do sapateado). O texto original é bobo como só as comédias românticas americanas podem ser. Não há frases cortantes, nem o humor sarcástico judeu que tanto tem feito pelo showbizz americano. Mas Claudia Raia defende com doçura caipira estetizada (ainda que perca o tom do personagem em alguns momentos), força e afinação sua Polly Baker. Canta belamente. Mas quem rouba a cena é seu par romântico (e namorado de fato) Jarbas Homem de Melo, intérprete do galã Bob Child. De uma formação técnica que parece ter nascido com ele, canta, sapateia, dança e arranca comicidades além da excelência. Um craque. Mas o acerto da direção de José Possi Neto está em não centrar todo o fogo no casal de protagonistas. Todo o elenco brilha, em solos, e muito. Se o texto é apenas um apêndice, a decisão de ter usado a impagável coreografia original de Susan Strong, ganhadora de um Tommy pela obra, fez a grande diferença. Como disse a própria Raia em entrevista ao JC, a dança é pura dramaturgia. Sinuca de bico para ela: com a excelência da montagem, a atriz vai ter que viver um bom tempo com o musical. Seria uma pena encerrar a carreira da peça tão cedo.

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