Em novo livro, Barbara Heliodora esmiúça peças de Shakespeare

A autoridade brasileira na obra do dramaturgo detalha seus personagens, suas tramas e seus contextos
Mateus Araújo
Publicado em 26/12/2014 às 12:23


No finalzinho deste ano em que o mundo celebra o 450º aniversário de William Shakespeare, a crítica de teatro carioca Barbara Heliodora lança um livro que, para os amantes e admiradores da dramaturgia, é uma “bíblia” resumida sobre os textos do autor de Romeu e Julieta. Em Shakespeare – O que as peças contam (Edições de Janeiro, R$ 55), a autoridade brasileira na obra de um dos maiores dramaturgos da nossa história, esmiúça os 37 espetáculos do autor (35 deles traduzidos por ela e os outros dois por sua mãe, Anna Amélia), detalhando seus personagens, suas tramas e seus contextos. Sem dúvida, uma bibliografia fundamental para o estudo do teatro ocidental.

Entrevistada pelo Jornal do Commercio em abril deste ano numa reportagem sobre a efeméride do aniversário de Shakespeare, Barbara afirmou que, embora o mundo conheça a fama shakespeariana graças à popularidade do escritor, no Brasil “ele ainda é pouco conhecido, pois nunca tivemos uma tradição forte de montagem dos clássicos, e até relativamente pouco tempo não havia sequer traduções da maioria das peças”.

Motivada por essa vontade de tornar Shakespeare mais conhecido e mais próximo de todos, a ex-crítica de teatro de O Globo dedicou-se a explicar, didaticamente, suas percepções e análises sobre o trabalho do dramaturgo. Há um ano, Bárbara Heliodora resolveu deixar a crítica jornalística que exercia há décadas para continuar a se dedicar aos estudos e às produções sobre teatro. Ela tem feito traduções da obra de autores elisabetanos até hoje desconhecidos por aqui. Entre textos vertidos por Barbara para a língua portuguesa estão ainda obras de nomes como Tchekhov, Molière e Brecht. 

Em Shakespeare – O que as peças contam, a pesquisadora não só resume e interpreta os textos do inglês como nos introduz à compreensão da história de vida e de carreira do bardo inglês. O primeiro capítulo do livro, por exemplo, é inteiramente dedicado à biografia do autor. Barbara reconta a infância e a formação intelectual do dramaturgo, sem deixar de lado as polêmicas acerca de sua identidade (ela até lista os vários nomes que, no decorrer dos anos, foram citados como possíveis pessoas que podem ter sido o “real” Shakespeare). 

Adiante, o livro é dividido por uma cronologia que traça, com o olhar de Barbara, a evolução da estética e linguagem do teatro shakesperiano. A crítica teatral compila em seis partes esta trajetória. Em O aprendizado, como o título sugere, ela apresenta os primeiros textos do dramaturgo, escritos assim que ele chegou a Londres, entre 1588 e 1590. Nesta época, Shakespeare escreve em vários gêneros, como as comédias romana, romântica e até peças crônicas. Todas com muitos personagens. Era o momento de experimentar. 

Em seguida, Barbara se debruça sobre as peças do inglês feitas depois da reabertura dos teatros elisabetanos, 1654, após epidemia de peste bubônica. Ali, Shakespeare começara a criar sua linguagem própria. O percurso ainda pontua a fase de peças sobre a história de poder da Inglaterra (como Ricardo II e Julio Cesar), a maturidade do dramaturgo, seus últimos romances e, por fim, a “passagem de bastão”, quando Shakespeare resolve se aposentar e, com John Fletcher, escreve Henrique VII, para a companhia The King’s Men.

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