Jessier Quirino mostra suas observações da 'essência matuta'

No seu novo espetáculo, Xerém com Graxa, o poeta e humorista mostra peculiaridades do Sertão de 2017
Márcio Bastos
Publicado em 13/05/2017 às 19:23
Poeta Jessier Quirino Foto: Divulgação


O imaginário do Sertão e do povo que o habita é seminal no imaginário brasileiro. Decifrar a essência da região marcada pelas privações climáticas, mas berço de uma cultura rica tem sido uma preocupação de muitos estudiosos e artistas. É o caso de Jessier Quirino. O paraibano de Campina Grande fez do universo matuto seu campo de investigação e oásis artístico, como fica explícito em seu novo espetáculo Xerém com Graxa, que ele apresenta sábado e domingo (13 e 14), no Teatro RioMar.

Apesar de alguns resquícios, o Sertão de 2017, obviamente, não é o mesmo de Euclides da Cunha, Rachel de Queiroz ou Guimarães Rosa. A aproximação com os bens de consumo e costumes antes restritos aos grandes centros urbanos diluíram algumas barreiras
(positiva e negativamente) e transformaram a região. Jessier Quirino, como bom observador, acompanha de perto esse fenômeno, mas acredita que ele não compromete a “essência matuta”.

“O que minha poesia mostra é que ser matuto é um estado de espírito. Não precisa estar socado nas brenhas para tê-lo, pois existem pessoas que nasceram na capital e só pelas origens interioranas, as tradições passadas por pais e avós, têm afinidade com essa essência. Assim como há matutos que negam suas raízes e têm vergonha do interior”, pontua o poeta.

"RECITAL SOLO"

Em seu novo show, que ele classifica como “recital solo”, por estar sozinho no palco, aborda essas questões através da poesia, causos e músicas.

“O que faço é mostrar para diferentes gerações a riqueza do barro do qual somos feitos. Muita coisa mudou, mas permanece um certo mistério relacionado ao sertão, que fascina as pessoas há séculos. Ressalto essa astúcia do matuto para abordar temas como as questões climáticas, a relação do interior com a capital, do passado com o presente; de uma interior que não existe mais”, explica.

Antenado, Jessier não vê deméritos na internet. Percebe as possibilidades de conexão que a web permite e a utiliza com frequência, seja através de seu site oficial e redes sociais, como o Instagram, que adora.

Dialogando também com outras linguagens, ele convidou o artista plástico Shico Leite, natural de Patos (PB) e ligado à arte urbana, para criar o cenário do espetáculo: uma tela de cinco metros de altura por 16 de comprimento com vários personagens do universo sertanejo.

“Ele é ligado à arte de contestação e tem um traço muito singular. É sertanejo e entendia o que eu queria dizer, então há um diálogo entre o que falo e o que está na obra dele, refletido diretamente no show”, conclui.

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