Pesquisa revela história do teatro pernambucano nos anos 1950

Leidson Ferraz aborda disputas para estabelecimento da modernidade
Márcio Bastos
Publicado em 03/07/2019 às 15:32
Leidson Ferraz aborda disputas para estabelecimento da modernidade Foto: Acervo Memórias da Cena Pernambucana/Reprodução


O jornalista e pesquisador Leidson Ferraz tem se dedicado à pesquisa da história do teatro pernambucano, especialmente a efervescente, mas pouco estudada, primeira metade do século 20. Quinta-feira (4), às 19h30, no Teatro Santa Isabel, ele apresenta sua nova pesquisa, O Teatro no Recife dos Anos 50 – Tentativas de Reafirmação da Modernidade, que será lançada em formato de DVD e estará disponível para download gratuito.

Autor de Teatro Para Crianças no Recife – 60 Anos de História no Século XX e Um Teatro Quase Esquecido: Painel das Décadas de 1930 e 1940 no Recife, Leidson conta que a imprensa teve papel importante na sua pesquisa, uma vez que os periódicos da época registraram a pulsante cena teatral. Esses espaços serviram não só para divulgar as peças em cartaz, mas também para fomentar o pensamento crítico em torno do teatro. Foi nesta época que surgiu a Associação dos Cronistas Teatrais de Pernambuco (ACTP).

“Especialmente a partir de 1955, se abre mais espaço para discutir teatro. Os sete jornais que existiam no Recife tinham cronistas teatrais, com matérias publicadas diariamente. Eram intelectuais antenados com o que estava acontecendo no teatro brasileiro e tinham espaço para colocar suas opiniões com a crítica. As pessoas que escreviam sobre teatro às vezes tinham opiniões muito divergentes e isso deixava latente o momento de disputas entre o chamado teatro antigo, de comédias de costumes, que alguns chamam de chanchadas, e o teatro moderno, com respeito absoluto ao texto e à figura do encenador”, pontua Leidson.

Além do fortalecimento do debate sobre temas ligados ao teatro, as trocas das companhias locais com os grupos modernos de fora se mostraram cruciais na transformação da nossa cena. Trocas entre o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) com diretores como Zbigniew Ziembinski e a chegada de companhias modernas, como a de Cacilda Becker, ao mesmo tempo em que grupos mais tradicionais, como o de Eva Todor, lotavam os teatros, aconteciam em um momento no qual os festivais nacionais começavam a aparecer. O Brasil, finalmente, passava a dialogar e Pernambuco se destaca.

CIRCULAÇÃO

Como destaca o pesquisador, foi na década de 1950 que, pela primeira vez, um teatro pernambucano mais esmerado circulou no Sudeste e Sul, com a primeira excursão do TAP ao Rio de Janeiro, em 1953, onde o grupo foi ovacionado (na volta ao Recife, os artistas desfilaram em carro aberto, para orgulho geral). Ou ainda, em 1957, quando o Teatro Adolescente do Recife, sob direção de Clênio Wanderley, participou do 1º Festival de Amadores Nacionais, no Rio de Janeiro, conquistando a Medalha de Ouro com a peça A Compadecida (rebatizada posteriormente de Auto da Compadecida), que consagrou Ariano Suassuna.

“Pernambuco tem uma história forte no teatro nacional e não se colocou de maneira subserviente às demandas estéticas e temáticas que vinham de fora. Foi, antes de tudo, um processo de trocas, de disputas, e fazemos parte do momento de consolidação da Modernidade nos palcos nacionais”, reforça.

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