Após cancelamento, espetáculo 'Abrazo' será montado no Teatro Apolo

O grupo Clowns de Shakespeare, realizador da peça 'Abrazo', se juntará em ato de protesto contra a suspensão da temporada, culminando em apresentação
JC Online
Publicado em 13/09/2019 às 11:41
O grupo Clowns de Shakespeare, realizador da peça 'Abrazo', se juntará em ato de protesto contra a suspensão da temporada, culminando em apresentação Foto: Foto: Rafael Telles/Divulgação


Após o cancelamento da temporada do espetáculo Abrazo, que seria realizado na Caixa Cultural, o grupo potiguar Clowns do Shakespeare se juntará aos movimentos Batendo o Texto na Coxia e Virada Cultural do Teatro do Parque em um ato que culminará na apresentação da peça no Teatro Apolo. O ato terá concentração às 15h, na Praça do Arsenal, seguindo para a Caixa Cultural, onde será realizado um protesto. De lá, o movimento segue ao teatro para apresentação gratuita, mediante a limitação da casa.

"Assim, acreditamos que fecharemos a primeira etapa dessa jornada tão intensa, difícil, mas ao mesmo tempo repleta de suporte e carinho de tanta gente, novos e antigos parceiros, instituições e pessoas que acreditam nos mesmos princípios que nós, e que lutam por um país livre e democrático", diz a nota oficial, divulgada nas redes sociais do grupo. Para o ato, o pedido é para que os participantes usem roupas brancas. 

Segundo a publicação, as comunicações com a Caixa tiveram "retornos inconsistentes", em que a instituição alegava a quebra de uma clásula que previa o zelo "pela boa imagem dos patrocinadores, não fazendo referências públicas de caráter negativo ou pejorativo", afirmando que tal ponto foi desrespeitado em um bate-papo após a primeira sessão. O grupo não reconhece algo que poderia gerar essa reação e não conseguiu obter informações adicionais. Assim, abriram um processo judicial solicitando um pedido de tutela antecipada em caráter antecedente na 2ª Vara Federal da Justiça Federal.

Sobre o caso

O grupo potiguar Clowns de Shakespeare, que realizava o espetáculo Abrazo na Caixa Cultural, foi pego de surpresa com a suspensão da temporada no último sábado (7). Com duas sessões marcadas no dia de estreia, só a primeira foi encenada. Um debate chegou a ser realizado, mas a encenação seguinte, assim como as apresentações de domingo e do próximo final de semana foram canceladas. Em nota divulgada nas redes sociais, o grupo afirma que a decisão partiu da própria Caixa Econômica por uma suposta quebra de cláusula contratual.

Segundo Fernando Yamamoto, fundador do Clowns, a equipe está aguardando esclarecimentos da Caixa, que levou a questão para Brasília. Já Marco França, diretor do espetáculo, publicou um vídeo falando em censura. "Uma censura travestida com argumentos jurídicos. Vemos um momento de barbárie no país, onde a verba pública para pesquisa e educação são cortadas, livros são censurados, artistas estão sendo perseguidos e tendo suas obras censuradas. Não nos calarão", afirma.   

Por telefone, a reportagem procurou esclarecimentos com a assessoria da Caixa Econômica, que pediu a solicitação das informações por e-mail. Como resposta, a instituição afirmou que as apresentações foram canceladas por "descumprimento contratual" e que este foi rescindido. A Caixa informou ainda que os valores dos ingressos adquiridos estão sendo restituídos na bilheteria da Caixa Cultural Recife.

A redação do JC questionou por e-mail o que teria motivado a quebra de contrato, mas ainda não obteve resposta da Caixa. 

Sobre o espetáculo

Abrazo é a segunda peça da Trilogia Latino Americana (composta ainda por Nuestra Senhora de Las Nuvens e Dois Amores y Um Bicho), um projeto de pesquisa do grupo que teve início há uma década e nasceu do desejo de investigar a história e a cultura dos países vizinhos ao Brasil, a partir da percepção da falta de diálogo entre as nossas culturas, fruto de uma construção eurocêntrica. Entre os pontos em comum das histórias dessas nações estão os sucessivos episódios de golpes de estado, como as ditaduras militares instauradas no século 20.

Sem falas, o espetáculo dirigido por Marco França foi livremente inspirado em O Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano, e tem roteiro dramatúrgico assinado por César Ferrario. No elenco estão Camille Carvalho, Dudu Galvão e Paula Queiroz, que se revezam em vários personagens. No trabalho, a música exerce uma função de destaque, diretamente ligada à ação.

Segundo Fernando Yamamoto, um dos fundadores do Clowns de Shakespeare, a obra tem como base o desejo de trabalhar com as crianças temas como repressão, relações de poder e o histórico de ditaduras da América Latina. Para ele, os espetáculos ganharam uma potência ainda maior após 2016, dialogando diretamente com o Brasil do presente.

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