Celebrados no mesmo ano no qual se completa o bicentenário da Revolução de 1817, os 200 anos da primeira impressão feita no Estado ganham um motivo especial para serem lembrados. Estará disponível na internet, a partir de amanhã (16), o resultado do projeto de extensão Artes Gráficas Pernambucanas de Heinrich Moser no início do século XX, desenvolvido por alunos e docentes do Campus Olinda do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). Iniciado há pouco mais de um ano, o trabalho partiu de um exemplar de 1924 da extinta Revista de Pernambuco para resgatar e digitalizar as obras gráficas desenvolvidas pelo arquiteto, vitralista e artista visual alemão entre os anos de 1910 e 1947, tempo em que fixou moradia no Recife.
As visitas a acervos públicos e privados conseguiram reunir 112 ilustrações feitas para cartazes, partitura e capas de revistas, livro e jornal, das quais 11 estamparam este Jornal do Commercio entre 1924 e 1936. Com base em textos de Martine Joly e Donis Dondis, o grupo identificou, entre outras características, o uso de “traços ou pontos pretos em cima do papel branco que conseguiam expressar muito bem a noção de luz, sombra, volume e textura”.
“Moser era um artista bastante versátil. Acadêmico e ao mesmo tempo arrojado. Se usava um sombreado, este não era obtido com jogo de tons, mas manchas de cores chapadas. Encontramos, ainda, muitos trabalhos no estilo Art Nouveau, bastante em voga na Europa no auge de sua produção”, detalha Leopoldina Mariz, técnica em Artes Visuais e coordenadora da pesquisa. Formas arredondadas e a mescla do conhecimento formal com o imaginário local para retratar o cotidiano pernambucano, continua ela, são predominantes e algumas das principais marcas de suas criações.
O maior acervo encontrado pertence à Revista de Pernambuco, periódico publicado entre 1924 e 1926, da qual foram identificadas 24 capas contendo ilustrações de diversos estilos, formas e comunicação. Entre os temas abordados, destaque para o desenvolvimento urbano da cidade, com registro de episódios como a reforma do Porto do Recife (em meados de 1920) e do Tribunal de Justiça do Estado, quando da transferência para a atual sede, o Palácio da Justiça, bairro de Santo Antônio. “Outra coisa notável são as figuras de mulheres, retratadas em primeiro plano. À época o Estado era governado por Sérgio Loreto, que investiu no setor da saúde no qual muitas delas trabalharam”, observa Leopoldina.
Todo o material registrado ficará disponível para acesso gratuito através da plataforma Issuu.com e do site www.artemoser.com, onde será possível fazer download do catálogo completo com traduções para inglês e alemão. “Muitas pessoas ainda se encantam pelos vitrais criados por Heinrich Moser, então quisemos chamar mesmo atenção para a importância de seus trabalhos gráficos, aliando a preservação da memória gráfica local com o uso das plataformas atuais”, pontua Leopoldina, para quem o projeto se desdobrou em tema para a dissertação de mestrado.
Artes Gráficas Pernambucanas de Heinrich Moser no início do século XX contou com apoio da Biblioteca Central Blanche Knopf, ligada à Fundação Joaquim Nabuco, e patrocínio do Projeto de Preservação Cultural do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, que doou o material – câmera, lentes, tripé e kit de iluminação – cedido para catalogação das obras encontradas, para o campus do IFPE em Olinda.