Sebastião Salgado é tema do documentário O sal da terra

Filme foi ovacionado após apresentação no Festival de Cannes
Ernesto Barros
Publicado em 22/05/2014 às 6:35
Filme foi ovacionado após apresentação no Festival de Cannes Foto: Divulgação


A presença do cinema brasileiro foi muito tímida em Cannes 2014. Nesta quinta-feira (22/05),  a vez é do curta pernambucano Sem coração, de Tião e Nara Normande, que será exibido na Quinzena dos Realizadores. Sem candidatos nativos na Seleção Oficinal, sobrou apenas a participação do longa-metragem O sal da terra, uma coprodução entre a França, a Itália e o Brasil que celebra o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado.

Dirigido pelo alemão Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo, o filme é um dos melhores da Mostra Um Certain Regard. A seleção deste ano, nesta seção, não foi das melhores - pelo menos até agora. Como já estamos na reta final do festival, não deve aparecer coisa melhor para levantar a qualidade. A sessão de O sal da terra foi das mais concorridas, mas não contou com a presença de Sebastião Salgado nem de sua mulher, a também fotógrafa e produtora editorial Lélia. Wenders e Juliano fizeram a apresentação de praxe, só com os costumeiros agradecimentos. Mas, no final da projeção, foram bastante recompensados com uma ovação de mais de cinco minutos.

A recepção calorosa do público foi semelhante a acolhida da crítica. Sebastião Salgado, que está entrando na casa dos 70 anos, parece que parou um pouco para refletir sobre seu trabalho fotográfico ao longo das últimas quatro décadas. No ano passado, a brasileira Betse de Paula, com Revelando Sebastião Salgado, já havia prestado uma homenagem a ele. Sem tanta ambição quanto o filme de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, o filme de Betse já mostrava bastante sobre a vida e o trabalho do fotógrafo mais famoso do País.

A reunião entre Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado não é só mais ambiciosa em mostrar o trabalho de Sebastião Salgado, como também muito mais rica visualmente. E, claro, o filme tem o toque pessoal de Wim Wenders, um cineasta com um trajetória fantástica no cinema mundial, que também nutre uma grande paixão pela fotografia e pelo preto e branco. Inicialmente, Juliano deveria ser o único diretor do filme, mas ele e o pai acharam que faltava um olhar de fora.

REVERÊNCIA

Convidado para ser esse olhar distanciado, Wenders se revela bastante próximo de Sebastião Salgado. A narração em primeira pessoa tem um tom de reverência que só os grandes artistas são merecedores. O cineasta alemão conta que admira as fotografias de Salgado há 25 anos, quando comprou duas fotos numa galeria e pendurou na parede do seu escritório.

Apesar da parceria, percebe-se o que Wenders e Juliano, cada um, fizeram no filme. Cenas de arquivo com os pais de Salgado e algumas viagens são contribuições de Juliano. Enquanto o estilo de Wenders é visível nas cenas de entrevistas, especialmente na filmagem dentro de uma câmara escura que simula a textura das marcantes fotos em P&B de Salgado.

O sal da terra privilegia mais as fotografias do que do que detalhes da vida de Salgado. O começo deixa o espectador sem fôlego, com a série de fotografias de Serra Pelada, as primeiras que colocaram o nome dele em evidência. De maneira cronológica, Wenders e Juliano seguem as grandes viagens que o fotógrafo fez ao redor do mundo, alguns especialmente para o filme, enquanto que as outras foram resultantes de livros famosos como Outras Américas, Trabalhadores, Terra, Serra Pelada, Êxodos, África e Gênesis.

As sequências com fotos de Rwanda, em que Salgado testemunha a morte por inanição de milhares de pessoas, são doloridas e sombriamente belas. Ao falar de Rwanda, o fotógrafo diz que perdeu a fé da humanidade. Apesar disso, ele se recupera quando fala do trabalho de recuperação da Mata Atlântica da fazenda onde nasceu, em Aymorés, em Minas Gerais, que hoje sedia a Fundação Terra. Para os amantes da fotografia, o filme é mais do que obrigatório. No entanto, não espere nenhuma polêmica ou contradição em trajetória, especialmente quanto à crítica sobre a estetização da miséria, entre outros tópicos.

O repórter viajou numa parceria entre a Aliança Francesa e o Portomídia.

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