Festival de Cannes começa sob o signo da incógnita

O cineasta Cacá Diegues representa o Brasil com um filme fora da competição
Ernesto garros
Publicado em 07/05/2018 às 19:31
O cineasta Cacá Diegues representa o Brasil com um filme fora da competição Foto: h20/Divulgação


O 71º Festival de Cannes começa nesta terça-feira (9/5). Durante 12 dias o mundo do cinema volta os olhos para uma edição cercada de mudanças, na curadoria e no relacionamento com Hollywood e Netflix. Ao todo, 18 longas-metragens concorrem à Palma de Ouro. O Brasil está fora da competição – a última vez foi Aquarius, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, em 2016 –, mas a presença de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, em exibição especial, mantém a chama do cinema Brasileiro, que também está representado nas mostras Quinzena dos Realizadores e Cannes Classics.

Todas as informações apontam que a edição de 2018 do festival é uma incógnita. Até o comportamento do delegado-artístico, Thierry Frémaux, tem sido errático. Por um lado, tentar dar uma face política ao certame, com a inclusão de dois cineastas dissidentes políticos – o iraniano Jafar Panahi e o russo Kirill Serebrennikov –, que está em prisão domiciliar.

Do outro, perdoa o comportamento do cineasta dinamarquês Lars von Trier, que foi banido em 2011, depois de explicitar simpatia ao Nazismo, com a exibição de The House That Jack Built, fora da competição, ao mesmo tempo que monta um júri com maioria feminina, tendo como presidente a atriz australiana Cate Blanchette, a 12ª mulher a comandar a escolha da Palma de Ouro.

Ainda sob ecos das acusações contra Harvey Weinstein, um figurinha carimbada no tapete vermelho de Cannes, o festival vai entrar na luta contra o assédio sexual. O evento terá uma linha telefônica para que vítimas ou testemunhas possam denunciar agressores. A organização uniu forças com o governo francês pela primeira vez em 71 anos para proteger as mulheres durante o festival.

Diferente dos últimos anos, em que o festival tinha uma lista de diretores que se revezavam na briga pela Palma de Ouro, este ano sobraram poucos, como o francês Jean-Luc Godard, o japonês Hirokazu Kore-eda e o chinês Jia Zhang-ke. Dessa vez, a maioria é mesmo de cineastas que concorrem pela primeira vez, muitos desconhecidos do grande público. Até a presença americana, sempre forte, foi reduzida para dois títulos, um deles é BlacKKKlansman, de Spike Lee, que não participava do festival desde o final dos anos 1980.

FALTAM ESTRELAS

Com isso, Cannes perde também em sua relação com Hollywood e sua política de astros, pois são pouquíssimos com nomes dignos de marquises. Para tentar ganhar uma parcela do público mais jovem, a principal atração é a estreia mundial de Solo, de Ron Howard, o mais novo spin off da saga Star Wars, que conta as aventuras do jovem Han Solo, interpretado pelo pouco carismático Alden Ehrenreich.

E quando se fala Hollywood, não se pode deixar de mencionar Netflix. Seguindo orientações dos exibidores franceses, que fazem uma forte proteção do ecossistema das salas de cinemas, a direção do festival baniu a produção da gigante do streaming, que não terá nenhum de seus filmes nas mostras. A falta mais sentida foi a esperada projeção de The Other Side of the Wind, o filme póstumo de Orson Welles, que foi interrompido por mais de 40 anos e só agora finalizado, graças ao suporte da Netflix.

Para o brasileiro Cacá Diegues, apresentar O Grande Circo Místico, uma livre adaptação do poema de Jorge de Lima, corroteirizado pelo pernambucano George Moura, é a prova de seu excelente relacionamento com Cannes, que já dura 55 anos. Ao longo de sua carreira, ele concorreu à Palma de Ouro três vezes. Na Mostra Un Certain Regard, o País é representado por Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortes, do português João Salaviza e da brasileira Renée Nader Messora.

Seleção Oficial

Todos lo saben (Everybody Knows) DE Asghar Farhadi
Yomeddine, de A. B. Shawky
Leto (L’Éte) DE Kirill Serebrennikov
Plaire, Aimer et Courir Vite (Sorry Angel), de Christophe Honoré
Zimna Wojna (Cold War), de Pawel Pawlikowski
Le Livre d’Image (Image Book), de Jean-Luc Godard
Jiang Hu Er Nv (Les Éternels/Ash is Purest White), de JIA Zhang-ke
Les Filles du Soleil (Girls of the Sun), de Eva Husson
Se Rokh (3 Visages/3 Faces), de Jafar Panahi
Manbiki Kazoku (Une Affaire de Famille/Shoplifters), de Hirokazu Kore-eda
Netemo Sametemo (Asako I & II), de Ryusuke Hamaguchi
Blackkklansman (Black Klansman), de Spike Lee
Lazzaro Felice (Heureux Comme Lazzaro/Happy as Lazzaro), de Alice Rohrwacher
En Guerre (At War), de Stéphane Brizé
Under the Silver Lake, de David Robert Mitchell
Burning, de Lee Chang-Dong
Dogman, de Matteo Garrone
Capharnaüm, de Nadine Labaki
Un Couteau dans le Coeur (Knife + Heart), de Yann Gonzalez
Ayka, de Sergey Dvortsevoy
Ahlat Agaci (Le Poirier Sauvage/The Wild Pear Tree), de Nuri Bilge Ceylan
The Man Who Killed Don Quixote (L’Homme qui Tua Don Quichotte), de Terry Gilliam (fora da competição)

Un Certain Regard
Donbass, de Sergei Loznitsa
Fafiki, de Wanuri Kahiu
Manto, de Nandita Das
Meurs, Monstre, Meurs (Muere, Monstruo, Muere/Murder Me, Monster), de Alejandro Fadel
Gräns (Border), de Ali Abbasi
À Genoux les Gars (Sextape), de Antoine Desrosières
Die Stropers (Les Moissonneurs/The Harvesters), de Etienne Kallos
Les Chatouilles (Little Tickles), de Andréa Bescond, Eric Metayer
In My Room, de Ulrich Köhler
Laskovoe Bezrazlichie Mira (La Tendre Indifférence du Monde/The Gentle Indifference of the Wworld) de Adilkhan Yerzhanov
Mon Tissu Préféré(My Favorite Fabric), de Gaya Jiji
L’Ange (El Ángel), de Luís Ortega
Di Qiu Zui Hou De Ye Wan (Un Grand Voyage Vers la Nuit/Long Day’s Journey into Night), de Bi Gan
Euforia, de Valeria Golino
Girl, de Lukas Dhont
Gueule d’Ange (Angel Face), de Vanessa Filho
Sofia, de Meryem Bbenm’barek
Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (Les Morts et Les Autres/The Dead and the Others), de João Salaviza, Renée Nader Messora

Sessão Especial
O Grande Circo Místico, de (Le Grand Cirque Mystique/The Great Mystical Circus), de Carlos Diegues

Quinzena dos Realizadores
Los Silencios, de Beatriz Seigner
O Órfão, de Carolina Markowicz (curta-metragem)

Cannes Classicis
João, a Faca e o Rio (João and the Knife), de George Sluizer

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