As primeiras cenas de Americano – exibido hoje, às 16h15, no Cinema da Fundação, dentro do Festival Varilux –, anunciam que o longa-metragem é uma sucessão de heranças artísticas. Mathieu Demy, que em sua estreia como realizador também escreveu o filme e o protagoniza, é filho dos cineastas franceses Agnès Varda e Jacques Demy, enquanto sua parceira na trama, com a qual ele compartilha uma relação cinzenta, é Chiara Mastroianni, filha de Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni. Quando Martin (a personagem vivida por Mathieu) é avisado da morte da mãe, nos Estados Unidos, quem o recebe no outro país é uma amiga da família, vivida por Geraldine Chaplin, cujo sobrenome dispensa pormenores.
A viagem para a América, de onde saiu aos sete ou oito anos (ele não sabe ao certo) é o gatilho para que o protagonista resgate os cacos de uma infância obscura e mal-lembrada. A peça-chave para esclarecer esse período está na stripper Lola, interpretada por Salma Hayek.
O diretor parece travar uma busca pessoal com o longa, ilustrando a infância de seu personagem com trechos de Documenteur (1981), filme assinado por sua mãe, onde ele interpretou um Martin menino e de olhos tristes. O Martin adulto, porém, repassa os entraves consigo para o público, causando certo bloqueio a ele e, consequentemente, à trama. Pode-se supor, portanto, que o foco de Mathieu Demy com Americano se distancia das personagens do filme para explorar a arte que herdou dos pais.