LOS ANGELES - Depois de um longo período de dedicação ao cinema de animação, o americano Robert Zemeckis volta a trabalhar com atores em Flight, um filme ambicioso e intimista sobre a decadência um piloto de avião alcoólatra e viciado em cocaína interpretado por Denzel Washington.
Com roteiro de John Gatins, autor de Gigantes de aço (2011) e Sonhadora (2005), o projeto demorou 10 anos para ser concretizado e precisou de todo o peso - e salários reduzidos - de Denzel Washington e do diretor Robert Zemeckis para que o estúdio Paramount confirmasse o financiamento.
Flight, que estreou sexta-feira passada na América do Norte e deve chegar aos cinemas brasileiros em fevereiro, mostra Whip (Denzel Washington), um piloto superdotado que consegue, graças ao sangue frio e a uma manobra brilhante, salvar quase todos os passageiros e a tripulação de seu avião após uma avaria durante o voo. Mas Whip também tem problemas com drogas e a investigação federal do incidente colocará em risco seu recente status de herói nacional, ao mesmo tempo em que ele se apaixona por uma viciada em heroína (a britânica Kelly Reilly).
“Sua dependência é sintoma de problemas mais profundos”, afirmou à imprensa Robert Zemeckis, na apresentação do filme em Beverly Hills. “Abusam das drogas, mas também poderiam abusar de outras coisas: comida, jogos, trabalho. Experimentam uma forma de vazio”.
Na preparação para o papel, Washington não insistiu no aspecto alcoólico. “Whip não acredita que é alcoólatra. É um cara que bebe. Para mim, ele era como qualquer outro cara que toma um trago por semana, mas que não percebe quanto está indo longe” disse o ator".
Caso isolado em Hollywood
“Há um elemento pessoal no filme”, declarou o roteirista John Gatins. “Estou sóbrio desde que tinha 25 anos e comecei a escrever o roteiro quando tinha 30 ou 31. Todos os temas sobre alcoolismo e drogas de alguma forma fizeram parte da minha vida. E fico nervoso nos aviões”, disse.
Com a primeira cena, que combina nus frontais e carreira de cocaína, Flight é um caso isolado no panorama atual dos estúdios de Hollywood, decididamente voltados ao grande público com filmes de superheróis e comédias românticas. O longa-metragem parece mais com um filme dos anos 70, “glorioso período no qual Hollywood fazia filmes difíceis de assistir”, nas palavras de Gatins. “O negócio mudou e agora querem que a maior quantidade possível possa assistir um filme”.
Outra questão original de Flight no contexto de Hollywood é que não responde a nenhum gênero em particular. “Em um momento pensei em dar à investigação um papel mais importante no filme. Mas poderia fazer isto e, ao mesmo tempo, continuar fiel ao ponto de vista de Whip?”, perguntou o roteirista. “Preferi eliminar várias cenas (sobre a investigação) e concentrar na história dele, em sua caminhada”, afirmou.
Zemeckis – diretor de clássicos como a trilogia De volta para o futuro e Forrest Gump - O contador de histórias -, se reencontrou em Flight com o cinema de atores depois de passar uma década dedicado aos filmes de animação, como O Expresso Polar (2004), A lenda de Beowulf (2007) e Os fantasmas de Scrooge (2009).
Com exceção da cena do acidente, virtuosa e paralisante, o filme tem uma característica voluntariamente intimista, ao mesmo tempo que o drama não impede momentos de humor. “Minha aproximação do cinema é o divertimento”, afirma o diretor de 61 anos. “Você pode ter um tema muito sombrio, sério e complexo, mas penso que não há nenhuma razão para evitar o humor, a ação ou o suspense”, concluiu.