Crise atinge audiovisual pernambucano

Atraso de verbas do Funcultura preocupa produtores
Ernesto Barros
Publicado em 05/03/2015 às 6:06
Atraso de verbas do Funcultura preocupa produtores Foto: Divulgação


Vários projetos de longas-metragens e de difusão cinematográfica estão com os cronogramas atrasados devido ao atraso no repasse de verbas do Edital do Audiovisual – Funcultura, a principal fonte de financiamento do cinema local nos últimos oito anos. 

Além de projetos em andamento, os produtores independentes também estão sofrendo com a falta de pagamento de parcelas vencidas no ano passado, inclusive de alguns que já tiveram prestação de contas concluídas.

A Cinemascópio Produções, comandada pelo casal Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, foi uma das mais atingidas. Segundo Emilie, pequenos atrasos são normais e sempre acontecem, principalmente na virada do ano. O problema é que alguns repasses já deveriam ter sido pagos há cerca de três meses.

Entre os projetos mais prejudicados está o longa-metragem O ateliê da Rua do Brum (ex-Vernissage), de Juliano Dornelles, que reúne a Símio Filmes e a Cinemascópio. As filmagens aconteceram no Bairro do Recife durante o mês de janeiro. Na metade do mês, a segunda parcela da produção – que teve o orçamento de R$ 400 mil aprovado pelo Funcultura – não foi repassada.

“Foi terrível o que aconteceu. Para honrar os compromissos com fornecedores, tivemos que pedir empréstimo. Por causa disso, teremos problemas também na prestação de contas, já que a Fundarpe é muito rigorosa e não aceita ressarcimento”, explicou Emilie. Ela disse, também, que a produtora executiva Lívia de Melo foi ao órgão inúmeras vezes, mas não conseguiu falar com os gestores. “A promessa que lhe fizeram foi a de que o pagamento seria feito depois do Carnaval, mas o Carnaval já passou e não recebemos nada.”

Outros dois projetos da Cinemascópio também foram prejudicados pela falta de dinheiro. O lançamento do longa-metragem Permanência, que estava programado para março, teve que ser adiado. “Eles entregaram uma parcela incompleta, que não deu para fazer nada. Iríamos receber R$ 50 mil e liberaram pouco mais de R$ 20 mil”, afirmou a produtora. O festival Janela Internacional de Cinema, realizado no ano passado, ainda tem uma parcela pendente. “Juntando tudo, esses valores são muito altos para uma produtora independente. Os fornecedores já ameaçaram colocar o nome da empresa no Serasa. O desgaste emocional de receber cobranças é muito grande”, reclamou Emilie.

O diretor e produtor Gabriel Mascaro também enfrentou problemas durante o lançamento do longa-metragem Ventos de agosto. A parcela final da verba de distribuição ainda não foi paga. “Estamos em processo de distribuição do filme, lutando para disponibilizá-lo on demand e em blu-ray, mas ainda não sabemos se vamos conseguir”, lamentou.

No final da tarde de ontem, a reportagem do Jornal do Commercio conversou com Gustavo Araújo, superintendente de gestão do Funcultura, que pediu calma aos produtores e disse que, em uma semana, muitos pagamentos pendentes serão efetuados. “A virada do exercício e o retrabalho de empenhos, de projetos de várias edições do Edital, de 2012 para cá, gerou um volume de trabalho muito grande, além do fato de que a Fazenda estadual só foi reaberta em janeiro”, explicou.

De acordo com o superintendente, a Fundarpe está correndo contra o tempo para realizar os pagamentos de 20 projetos do Edital Audiovisual, em duas programações, nos valores de R$ 1.882,261,24 e R$ 1.071,619,79. “Estamos tranquilos e sabemos que esses atrasos, no começo do ano, geram um certo incômodo. Nos próximos meses, todas as solicitações serão atualizadas”, prometeu.

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