Fellipe Barbosa fala sobre o longa-metragem Casa grande

Filme está em cartaz nos cinemas brasileiros desde a última quinta-feira
Ernesto Barros
Publicado em 21/04/2015 às 6:00
Filme está em cartaz nos cinemas brasileiros desde a última quinta-feira Foto: Imovision/Divulgação


As tensas relações de classe na sociedade brasileira pareciam raridade no cinema nacional, mas nos últimos anos vários filmes começaram a tirar o véu de uma falsa cordialidade entre patrões e empregados. Seguindo as veredas abertas por O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, o cineasta carioca Fellipe Barbosa, 34 anos, conta uma história de sabor autobiográfico em Casa grande, em exibição nos cinemas, ao flagrar a derrocada financeira de uma família rica pelos olhos de um adolescente de 17 anos. Nesta entrevista, Fellipe fala do que o filme tem de pessoal, entre outros assuntos. 

JORNAL DO COMMERCIO – Jean, o protagonista de Casa grande, é um adolescente rico do Rio de Janeiro que assiste à derrocada financeira da família. Essa situação, apesar de difícil e traumática, acaba levando-o a conhecer uma realidade completamente diferente da sua. O que há autobiográfico no filme?

FELLIPE BARBOSA – A história foi muito construída e roteirizada, mas tem muitos elementos reais. É autobiográfico no sentido de que aconteceu algo parecido com a minha família quando eu morava em Nova Iorque, fazendo mestrado em cinema, e meus pais esconderam isso de mim. Escrever o roteiro foi uma tentativa de me imaginar ali, com 17 anos, prestes a fazer o vestibular e começar uma nova fase da vida. Mas eu amplifiquei muito a realidade e botei uma lupa em várias coisas. Aquela não foi a primeira vez que andei de ônibus, como mostro no filme. Como a história foi muita armada e construída, já não sei mais o que é verdade e o que não é. 

JC – Mas Jean é mesmo um alter-ego seu, você se vê refletido nele?

FELLIPE – Com certeza me vejo muito nele e nos outros meninos cada um deles tem um pedacinho de mim. Acho que ele tem um inocência que talvez eu tenha ainda, o que foi importante para contar a história desse menino que vai aos poucos se tornando mais presente no mundo, tomando consciência das contradições de fora e dentro da casa. Essa ingenuidade foi boa para mostrar a curva dramática de Jean. 

JC – O título Casa grande remete justamente às diferenças de classes da sociedade brasileira, ao colocar frente a frente uma família rica em dificuldades financeiras e sua relação com os empregados. Trata-se uma associação à Casa grande & senzala, de Gilberto Freyre?

FELLIPE – Na primeira versão do roteiro eu estava muito influenciado pelas notícias das cotas, quando eu ainda morava em Nova Iorque. Pareceu-me interessante partir dessa premissa, de encenar o despertar dessa consciência no Brasil com minha visão um pouco de fora. Inicialmente, o roteiro chamava-se Cotas e foi escrito em parceria com Karen Sztajnberg. Depois, fizemos o laboratório de roteiro de Sundance. Quando eles me selecionaram para o laboratório de direção, insistiram para eu mudar o título, aí sugeri Casa grande. Eles amaram e não me deixaram mudar mais. A partir daí, tive que honrar esse título, que é um pouco o movimento do primeiro plano porque a casa é inquestionavelmente grande. Uma vez que o título veio para o filme, eu fiquei mais atento aos pontos em comum com as ideias de Gilberto Freyre, apesar de não ter lido o livro naquele momento. Só fui ler um pouco mais tarde. Mas, apesar de haver uma transformação, o filme mostra que os patrões continuam patrões e o ponto de vista é deles. Por isso, não poderia chamá-lo Casa grande & senzala

Leia a entrevista completa na edição desta terça-feira (21/04) no Caderno C, do Jornal do Commercio.

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