Cavalo dinheiro é destaque no Cine PE desta segunda-feira (4/5)

Filme do diretor Pedro Costa foi premiado em Locarno, no ano passado
Ernesto Barros
Publicado em 04/05/2015 às 11:08
Filme do diretor Pedro Costa foi premiado em Locarno, no ano passado Foto: Divulgação


Para os cinéfilos do mainstream hollywoodiano, o principal evento do Cine PE até agora foi a participação de John Madden na abertura do Festival, no sábado passado, com a exibição da comédia O exótico Hotel Marigold 2. Mas a noite desta segunda-feira (4/5), no Cinema São Luiz, sem dúvida é a mais aguardada de toda a edição deste ano. Pelo menos para os cinéfilos de carteirinha, o português Pedro Costa é o maior cineasta da atualidade.

Cavalo Dinheiro, que concorre na Mostra de Longas-metragens, é o último longa do diretor português. No grosso da programação do festival, o filme parece um peixe fora d’água. Ponto para o curador Rodrigo Fonseca, que faz um golaço ao incluir o filme português. No ano passado, quando ele tentou uma internacionalização do Cine PE, já havia acertado a mão com o documentário, também português, E agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto.

Sem o cinema de Pedro Costa, talvez Joaquim Pinto não tivesse a chance de contar a sua própria história. Assim como ele, muitos cineastas, centenas de brasileiros, inclusive, foram tocados pelos filmes de Costa, que trouxe para o cinema contemporâneo os conceitos de hibridismo e auto-ficção.

Desde o final dos anos 1980, Costa vem construindo uma filmografia que muitos críticos afirmam como a mais inventiva depois da revolução perpetrada por Jean-Luc Godard nos 1960. Seus três filmes realizados em torno de Fontainhas - uma favela lisboeta que hoje não mais existe, mas que fora a moradia de imigrantes africanos fugidos das guerras coloniais, nos anos 1970 - fazem parte do panteão dos novos cineastas e dos novos críticos do século 21. Ossos (1997), No quarto de Vanda (2000) e Juventude em marcha (2006) são marcos dessa geração.

Quase uma década depois, Pedro Costa volta ao personagem de Juventude em marcha. Ele retorna ao imigrante cabo-verdiano Ventura, agora transladado para uma Fontainhas que faz parte apenas da memória de quem lá viveu. Agora, Ventura é interpretado pelo ator Abel Chaves. O filme participou do Festival de Locarno do ano passado e Pedro Costa ganhou de Prêmio de Melhor Diretor. 

Numa entrevista ao brasileiro Ruy Martins, correspondente da revista Brasil de Fato, Pedro Costa falou sobre o filme e Ventura, um personagem que têm vivências semelhantes às suas e, inclusive, a mesma idade. "O filme parece bastante nu, não há camuflagem. Ventura está muito doente, os lugares são aqueles onde viveu e trabalhou, ele passou por muitos hospitais e caiu de um andaime, num acidente de trabalho. Tem diabetes e essa doença mais espiritual que não tem nome, mas que poderia ser chamada de esquizofrenia, depressão, tristeza. Acho que todos temos um pouco disso à noite, mas ele tem todos os dias. Prefiro fazer filmes assim do que comédias", explicou ao jornalista.

No Brasil, onde até hoje seus filmes só foram exibidos nos Festivais de Cinema, Cavalo Dinheiro teve exibições também apenas em festivais. Na revista online Cinética, o crítico Filipe Furtado escreveu uma longa análise sobre filme, onde destaca o aspecto político das memórias do cineasta. "A revolução de 25 de Abril é o mote que domina todo o passeio memorialístico empreendido por Costa, e o filme joga luz sobre como ela se mostra para um trabalhador imigrante recém-chegado a Portugal como Ventura. O título do filme se refere a um cavalo chamado Dinheiro que Ventura deixou em Cabo Verde ao partir para Portugal".

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