Filme sobre assassinato de premiê israelense injeta política no Festival de Veneza

O thriller político de Amos Gitai reconstitui a investigação sobre o assassinato de Yitzhak Rabin,
Guilherme Genestreti
Publicado em 07/09/2015 às 16:56


VENEZA, ITÁLIA  - "O Estado de Israel nunca mais será o mesmo." A fase de toada pessimista domina o longa Rabin, The Last Day, que o diretor israelense Amos Gitai apresenta no Festival de Cinema de Veneza.

O thriller político reconstitui a investigação sobre o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, morto a tiros em 1995 por um extremista judeu contrário aos acordos de paz firmados pelo premiê com os palestinos.

"Rabin é ao mesmo tempo o centro buraco negro desse filme: a trama é construída em torno dele, mas eu não quis retratá-lo, não queria competir com a sua figura pública", disse Gitai, que já abordou os conflitos na região em obras como O Dia do Perdão (2000) e Free Zone (2005).

O assassinato é reconstruído por meio de gravações documentais da noite em que o premiê foi alvejado, num enorme comisso pela paz em Tel Aviv. Em seguida, Gitai encena a comissão que apurou a morte, expondo as falhas da segurança e o atendimento médico, e o universo do atirador, um fundamentalista judaico.

Apesar do tema, Gitai descarta comparações com JFK (1991), de Oliver Stone, sobre o assassinato de John Kennedy. "Não acho que tenha sido uma conspiração no meu caso. A morte de Rabin era anunciada nos muros. Foi cometida para desestabilizar a democracia."

O diretor afirma que lançar o longa vinte anos após o caso repercute no presente.

"É para olharmos o passado não para manter uma memória sentimental, mas para compreender um momento em que houve um breve momento de esperança, de diálogo entre israelenses e palestinos."

Conhecido por opiniões bastante diretas sobre o conflito, Gitai afirmou que os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza "são terras dos palestinos". "Nós temos que conviver com eles", disse. "Para se ter paz, você tem de considerar o outro." Sobre o assassino, hoje encarcerado, disse: "Ele era só a mão que empunhava a arma, e é por isso que não é o centro do filme."

O diretor contou ter se embasado em documentos e testemunhos prestados à comissão que apurou a morte para encenar, por exemplo, rituais religiosos em que rabinos incitavam a morte do premiê, invocando princípios ortodoxos como o "din rodef", a permissão ao homicídio contida no Talmude.

Numa edição em que o lado político tem sido pouco mencionado -a atriz Tilda Swinton e o diretor Tom Hooper citaram de passagem a questão dos refugiados-, Gitai deu início à entrevista coletiva pedindo que os presentes fizessem um minuto de silêncio por Riham Dawabsheh, palestina atacada por extremistas israelenses na Cisjordânia, que teve a morte anunciada nesta segunda (7).

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